Caro Roberto Castello Branco,
Em seu discurso de posse como presidente da nossa querida Petrobras, patrimônio erguido pelo povo brasileiro, algumas afirmações me deixaram bastante preocupado. Acredito que alguns dos elementos os próprios trabalhadores e trabalhadoras possam elucidar, porque, como você mesmo disse, devemos ser humildes.
Na parte inicial, você afirma que “quanto maior a intromissão do Estado na economia, mais restrita é a liberdade, menor o crescimento e maiores as oportunidades para distribuição de favores. É a construção de uma fábrica de pobres”. Acredito essa afirmação foi confusa e sem argumentos de sustentação, talvez devido à falta de tempo que o momento impunha. Generalizações desse tipo são infelizes e não dão conta, por exemplo, do contexto do crescimento econômico norueguês, que inclusive teve como base a indústria do petróleo, ou mesmo a situação do atual gigante econômico que é a China.
Mas voltemos aos temas mais “de casa”. Em outro momento, você diz que “a mãe natureza e o trabalho de profissionais altamente qualificados da Petrobras nos permitiram essa conquista”. Longe de mim desdenhar da parte que a mãe natureza desempenhou, porém, alerto que, o pré-sal não é uma exclusividade da costa brasileira. Existem possibilidades semelhantes em outros locais do mundo e que, inclusive, já foram identificadas. Também acredito que o mérito dessa grande descoberta é mais dos funcionários da Petrobras e de um outro sujeito de quem você não lembrou ou não teve informação, mas que eu te explico mais adiante.
Sigamos: "Projetos de investimentos devem competir por capital. Serão alocados para os mais meritórios do ponto de vista de risco e retorno esperado. Nunca por critérios vagos como: é estratégico, gera empregos... Ser estratégico é gerar valor”! Olha que interessante, quando os geólogos da Petrobras suspeitaram do pré-sal, a lógica foi a mesma e as empresas privadas recusaram o investimento no que ainda era apenas uma possibilidade. Isso porque era de alto risco, demandava um desenvolvimento tecnológico caro e etc.
Contudo, o Estado brasileiro, em um contexto de queda da produção nacional de petróleo e por julgar estratégico, confiou e investiu na tecnologia necessária para a extração em águas profundas, assumindo sozinho todos os riscos. Mas, seguindo o seu pensamento, não teríamos hoje o pré-sal e o Brasil seria extremamente dependente de importação de petróleo.
É claro que gerar valor é a função de toda empresa, só trago aqui a ironia de nossa trajetória. E aquele outro que você esqueceu de citar lá atrás e que foi quem permitiu também nossas conquistas é justamente o principal ator de toda essa ironia: o Estado. O pré-sal se tornou realidade por ter sido encarado como estratégico pelo Estado e realizado pelos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras.
Em outro ponto, você comenta, acertadamente, sobre a volatilidade dos preços do petróleo, o que realmente é uma grande preocupação. Mas acredito que a solução que você propõe para lidar com essa volatilidade é contraditória. Você assume como imperioso a redução da dívida da Petrobras e alongamento de seu prazo. Ora, no plano de desinvestimentos da estatal está prevista a venda 40% do parque de refino. Então, fica a dúvida: para lidar com momentos de queda do preço do petróleo nós iremos vender ativos (refinarias) que geram bastante lucro?
Acredito que a grande vantagem de ser uma empresa robusta e integrada, como é o caso da Petrobras hoje, é que atuando na exploração e no refino podemos criar uma camada de conforto para lidar melhor com a volatilidade do preço do petróleo. Quando o petróleo sobe, a exploração aumenta o lucro; quando o petróleo cai, o parque de refino aumenta o lucro. Reduzir essa robustez de lógica integrada só servirá para nos deixar ainda mais vulneráveis.
Você termina seu discurso de posse comentando uma questão quase pessoal: "A solidão na indústria do refino nos incomoda como amantes da competição. Gostaríamos muito de ter outros players investindo em refinarias no Brasil e competindo com a Petrobras!” Aqui, vou aproveitar para expor também minha sensação como funcionário: a dilapidação do patrimônio da Petrobras e a venda para aqueles que não quiseram investir na construção de refinarias e só querem agora os ativos prontos e sem riscos nos incomoda. Gostaria muito de ver o desenvolvimento industrial no país com outros players construindo e não apenas tomando o que foi erguido por nós. Gostaria muito que, antes de amantes da competição, do liberalismo ou de qualquer outra coisa, sejamos amantes do desenvolvimento industrial e econômico nacional. Temos capacidade e vontade. Os trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras querem continuar construindo essa gigante onde tenho orgulho de trabalhar! Confesso, sou um amante da nossa empresa e de nossas capacidades.
* Alexandre Finamori é petroleiro e diretor do Sindipetro-MG.
Edição: Joana Tavares