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Economia

Venezuela: estão de olho no petróleo

Estados Unidos tem uma trajetória beligerante em regiões produtoras da matéria-prima

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Em nome do petróleo, os EUA promoveram guerras no Golfo Pérsico, Síria, Iraque, Líbia e outros lugares
Em nome do petróleo, os EUA promoveram guerras no Golfo Pérsico, Síria, Iraque, Líbia e outros lugares - Foto: Reprodução

Herdeiro político do ex-presidente Hugo Chávez, Nicolás Maduro chegou ao governo em meio à comoção pela morte do líder que, além de impulsionar a chamada Revolução Bolivariana, colocou a economia venezuelana no mapa geopolítico mundial. 
A chegada de Hugo Chávez à presidência, em 1998, marcou o fim do modelo de Punto Fijo (ponto fixo), acordo entre as elites que davam as cartas desde os anos 60. Esse sistema se baseava na distribuição da renda do petróleo em uma ampla rede de troca de favores entre políticos, sindicatos atrelados ao Estado e empresários. Apenas dois partidos de direita se alternavam na presidência: a Acción Democrática (AD) e o Comité Electoral Partidario Independente (Copei).
“A direita estava muito desgastada naquele momento [eleições de 1998]. Ela sempre foi muito fechada, um clubezinho de famílias que têm suas propriedades, sua vida social e a maior parte de seus investimentos em Miami (EUA). Tratava-se, então, de romper com essa visão de fora para dentro”, comenta o professor Gaby Clauss Fernandes. Desde 2002, ele viaja periodicamente à Venezuela para acompanhar a situação do país.  
Para a economista Olívia Carolino, o projeto bolivariano tentou inverter essa lógica. “Chávez quebra com o Pacto de Punto Fijo, fazendo com que o povo entre na história do desenvolvimento e da construção nacional. A isso ele chamou de desenvolvimento voltado para dentro, com participação dos venezuelanos. A principal empresa pública, a PDVSA, passou a estar subordinada a isso. Esse processo é muito recente, não está completo”, afirma.
Geopolítica e petróleo
É impossível entender a crise venezuelana sem pensar nos Estados Unidos, maior consumidor de derivados do petróleo no planeta: combustíveis, cosméticos, plásticos, roupas, parafina, asfalto e outros. Mesmo após se tornar o maior produtor, eles são o segundo maior importador, atrás apenas da China. Apesar de comprarem petróleo venezuelano, seus principais parceiros estão no Oriente Médio. Porém, a proximidade geográfica com a Venezuela faz com que o percurso de transporte do óleo seja dez vezes mais rápido.
Em nome do petróleo, os EUA promoveram guerras no Golfo Pérsico, Síria, Iraque, Líbia e outros lugares. Agora, a Venezuela é o alvo prioritário. “Estão pensando em uma ofensiva dessa natureza sobre o petróleo. Então, é muito importante o domínio político e econômico sobre a Venezuela, que tem uma das maiores reservas do mundo”, comenta Olívia.
Articulações
Para concretizar a ofensiva e derrubar Maduro, os Estados Unidos precisam contar com aliados na América do Sul. Por isso, em agosto passado, o chefe da Defesa estadunidense, General James Mattis, cumpriu um roteiro de visitas à Argentina, Brasil, Chile e Colômbia. O objetivo foi comprometer as forças armadas desses países com o cerco ao vizinho caribenho. Os quatro integram o famoso Grupo de Lima, articulação composta também por Canadá, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru, sob comando norte-americano.
O presidente da Argentina, Maurício Macri, cogitou implantar bases militares ianques na região de fronteira com Bolívia e Chile. O governo colombiano negocia o estabelecimento de uma base da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) em seu território. No Brasil, o governo Bolsonaro, além de ofertar território nacional para uma base dos EUA, elegeu-se com um discurso agressivo, pregando uma guerra contra o país vizinho. 
China e Rússia
Na medida em que fica isolado no cenário regional, por outro lado, mais o governo Maduro estreita a parceira com China e Rússia, principais contrapontos aos Estados Unidos nos planos econômico e militar, respectivamente. Em dezembro, em Moscou, ele selou vários contratos de cooperação comercial com Vladimir Putin, garantindo US$ 5 bilhões em investimentos na área petrolífera, além de US$ 1 bi na mineração e outros recursos para agricultura e armamentos. Dias depois, os dois países realizaram exercícios militares conjuntos no norte venezuelano. 
Na China, Maduro firmou 28 acordos e 700 projetos. Destaque para o que previu ampliar para 1 milhão o número de barris diários exportados para a potência asiática. Outro contrato prevê investimentos chineses na produção de ouro no sudeste da Venezuela, onde se encontra a quarta maior reserva do mundo. 

Edição: Joana Tavares