Com menos de um mês, novo governo já está em crise. Veja quatro marcas deste início da gestão Bolsonaro no Brasil.
Uma “familícia” em apuros
Não durou um mês a lua de mel entre Bolsonaro e a mídia que deu o golpe no Brasil. Após elogios, omissões ou rodeios, Globo e Folha de São Paulo dispararam fogo amigo contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL), primogênito do Jair. Já existem fartas provas contra o “garoto” de 37 anos: de lavagem de dinheiro, passando por funcionários fantasmas e nepotismo cruzado, até associação com milícias cariocas. E o senador, defensor das milícias, contratou a mãe e a esposa do miliciano Adriano Magalhães, suspeito do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. E outros dois milicianos, os gêmeos Alan e Alex, são amigos da família Bolsonaro [ver foto no BdF] e irmãos de Valdenice de Oliveira, tesoureira do PSL. E outros veículos da mídia comercial começam, então, a repercutir também. Apesar disso, cuidado, meu bem! Essa mesma mídia continuará ao lado do governo nas medidas contra a população: reforma da Previdência, retirada de direitos trabalhistas, entre outras.
Governo diz uma coisa e diz outra depois
No dia 4 de janeiro, Bolsonaro disse que aumentaria o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e abaixaria o teto do Imposto de Renda. Horas depois, o Secretário da Receita, Marcos Cintra, desmentiu. No dia 3, o governo suspendeu todos os projetos de reforma agrária em andamento. No dia 8, o Incra revogou a suspensão. No mesmo dia, Bolsonaro ofertou o território nacional para construir uma base militar dos EUA. O governo estadunidense até gostou, mas o ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva, disse que não ia ter base nenhuma. No dia 9, o MEC publicou edital permitindo livros didáticos sem referências bibliográficas, sem revisão dos textos e com publicidade. A notícia pegou mal, e o governo novamente recuou. Também no dia 9, a expressão “Bolsonaro recua“ teve mais de 100 mil buscas no Google, e outras frases similares tiveram grande procura.
Governo recua de novo e mamata não vai mais acabar
O candidato que prometeu acabar com privilégios virou presidente e nomeou um ministro da Casa Civil que praticou Caixa 2; um ministro da saúde investigado por tráfico de influência e fraude em licitação; uma ministra da Agricultura delatada por propina para a JBS; um ministro da Economia acusado pelo Ministério Público de participar de esquema com fundos de pensão; um ministro da Ciência e Tecnologia que violou o código militar, envolvendo-se em atividades comerciais com a empresa Portally Eventos e Produções. E o filho do General Mourão (PRTB), vice-presidente da República, ganhou o cargo de assessor especial da presidência do Banco do Brasil, e seu salário passou de R$ 14 mil para R$ 36 mil, justo na semana em que o pai ascendeu ao Palácio do Jaburu. E Mourão, no exercício temporário da Presidência, publicou, na quinta-feira (24), decreto permitindo sigilo total em dados de servidores comissionados e dirigentes de fundações, autarquias e empresas.
Chacota internacional
Durante 28 anos como parlamentar, Bolsonaro sempre teve dificuldades para dar entrevistas e nunca escondeu que não sabia nada de economia, saúde, educação, meio ambiente, habitação, transportes, política externa e outros assuntos. Porém, a imprensa internacional ficou surpresa com a falta de conteúdo, quando ele foi discursar ao Fórum Econômico de Davos, na última semana. É verdade que, em dois dos mais breves discursos da história, ele foi direto ao ponto e disse que o objetivo do governo é entregar as riquezas brasileiras às empresas estrangerias. Mas ninguém esperava uma fala tão pobre em argumentos. "Ele me dá medo. O Brasil é um grande país, merece alguém melhor", disparou o economista Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Yale.
Edição: Joana Tavares