Escolhas de Romeu Zema (Partido Novo) estão sendo alvo de críticas de seus próprios eleitores. O governador de Minas Gerais assumiu em sua campanha uma posição de “antissistema” e de “novo”, mas nos primeiros dias de gestão mostra uma ligação com a “velha política” maior do que se imaginava.
A começar pela reorganização administrativa. Todo governo, em seu início, realiza uma mudança nas funções de secretarias e órgãos para melhor sintonizá-lo a seu projeto. Quem está encabeçando essas transições é Renata Vilhena, que foi Secretária de Planejamento e Gestão dos governos PSDB. Ela é quem está aconselhando o atual Secretário de Planejamento e Gestão, Otto Levy.
Outro nome de contradição é Custódio Antonio de Mattos, do PSDB, ex-prefeito de Juiz de Fora, ex-deputado e ex-secretário no governo Aécio Neves (PSDB). Ele foi nomeado a Secretário de Estado de Governo, um dos cargos de maior influência. A indicação foi criticada no Facebook de Romeu Zema por seus eleitores, que desaprovam as gestões de Custódio como prefeito. Também de Juiz de Fora e da gestão PSDB vem Elizabeth Jucá, que será Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social.
Zema trouxe ainda pessoas do governo de Luiz Fernando Pézão (MDB), do Rio de Janeiro. O governador carioca Pézão ficou com o mandato cassado por um ano e meio por abuso de poder econômico e político, mas retornou em agosto de 2018. Julia Sant’anna e Gustavo Barbosa, que foram secretários de Pézão, assumem respectivamente as secretarias de Educação e Fazenda de Minas Gerais.
Menos da metade é “novo”
Dos treze secretários de Zema, apenas seis não possuem vínculo com partido (PSDB e MDB) ou administrações anteriores. Manoel de Mendonça Filho e Otto Levy, por exemplo, assumem a secretaria de Desenvolvimento Econômico e Planejamento, e são ex-diretores de mineradoras. Já Ana Valentini, Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é ruralista.
A escolha de pessoas ligadas a partidos já vinha sendo prevista por especialistas, que afirmavam que Zema teria uma extrema dificuldade em colocar uma equipe apenas “técnica”, já que precisa do apoio de outros partidos e os cargos funcionam como uma barganha.
Outro lado
Questionado, o governo de Minas respondeu que a escolha dos dirigentes levou em conta “critérios estritamente técnicos” e que se deram por meio de agências de recrutamento e consultoria. A assessoria não informou o nome dessas agências. A redução das secretarias continua sendo uma promessa, que segundo o governo se “concretizará a partir do projeto de reforma administrativa a ser enviado à Assembleia Legislativa de Minas Gerais”.
Antigo partido de Zema foi 5º mais envolvido com Lava Jato
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, tal qual seus secretários, Romeu Zema não é novo na política. Ele entrou no Partido da República (PR) em dezembro de 1999 e permaneceu filiado por 18 anos. Seu pai e seu irmão, Ricardo e Romero Zema, também são filiados ao PR e, segundo dados do TSE, se mantêm até hoje.
Um levantamento da Revista Congresso Em Foco, de 2017 – época que Zema ainda era do PR – mostrou que o partido foi o quinto com maior número de deputados e senadores envolvidos na Operação Lava Jato. 44% dos seus parlamentares tinham pendências criminais no Supremo Tribunal Federal.
O vice-governador Paulo Brant (Partido Novo) também é de histórico partidário. Ele foi filiado ao PSB por três anos, quando tentou concorrer à prefeitura de Belo Horizonte, mas foi recusado de última hora pelo partido.
Edição: Joana Tavares