Se a vida já não anda fácil para os usuários de ônibus de Belo Horizonte após o reajuste da tarifa (que passou de R$ 4,05 para R$ 4,50), está ainda pior para quem vive na Região Metropolitana e precisa vir à capital.
Em todo final de ano, os preços do transporte metropolitano são reajustados e, o que já era caro, se torna mais caro ainda. No município de Contagem, por exemplo, a passagem da linha 7900 foi para o valor de R$ 5,35. Era de R$ 5,00.
A jovem Maria Araújo mora na cidade e trabalha em Belo Horizonte, no bairro Serra. Ou seja, além dos R$ 10,70 diários para pagar o trecho BH x-Contagem, ela precisa de mais R$ 9 para ir e voltar do serviço. Para piorar, como Maria trabalha sem carteira assinada, essa quantia é tirada do valor líquido do seu salário.
"Dá quase R$ 400 de passagem por mês, todo mês. Conheço várias amigas que trabalham sem assinar a carteira e algumas fizeram acordos para trabalhar de casa, porque simplesmente não dá pra pagar as contas mais a tarifa", relata. Ela releva que tem conhecidos que já foram recusados em vagas de trabalho em BH porque residiam em cidades metropolitanas.
"É sempre um receio falar que mora em Contagem durante uma entrevista. Vai que a empresa não está disposta a pagar?", questiona Maria.
Preço compromete lazer
Outra pessoa que já ouviu casos em que empresas recusam moradores de cidades metropolitanas é a novalimense Mariana Caldas. Na cidade, a passagem é mais cara: a linha 3832 passou de R$ 5,80 para R$ 6,15. Os ônibus executivos (3831), cujo diferencial é o ar-condicionado, custavam R$ 7,45 e agora R$ 7,90. De acordo com ela, a empresa responsável, Saritur, nunca avisou previamente a população sobre qualquer aumento da tarifa.
"Eu trabalho em Nova Lima, mas aqui a gente não tem nada de lazer pra fazer, tudo acontece em Belo Horizonte. E pra chegar até BH é muito caro, mesmo com um deslocamento relativamente curto. Então, infelizmente, o que acontece é que o povo fica preso dentro de uma cidade que não oferece nada de cultura”, desabafa.
Mariana declara que os motivos que a Saritur usa para justificar o preço elevado são sempre os mesmos, como investimentos na frota e melhoria das condições dos coletivos. No entanto, isso não aconteceria na prática.
"Durante o ano dá pra ver que nada é feito. Em época de chuva, os ônibus têm goteira. Os veículos são sucateados e estão sempre muito cheios. Além disso, passam só até 1h da manhã. Se vamos pra BH, temos que arrumar uma casa pra ficar, levar mochila, ou passar a noite na rua e correr risco", afirma.
Aumentos não param por aí
Em Honório Bicalho (3837), a passagem era R$ 5,80 e agora é R$ 6,15. Em Raposos (3842) e Rio Acima (3838), passou de R$ 6,90 para R$ 7,35. Betim (3304), de R$ 6,55 para R$ 6,95.
Todas as linhas citadas na matéria já eliminaram ou estão eliminando o cargo de cobrador de ônibus.
Edição: Joana Tavares