Quando se pensa em barragem, automaticamente é lembrado o crime da Samarco/Vale/BHP em Mariana e mais recentemente em Brumadinho, ambas cidades de Minas Gerais. Mas engana-se que barragens é só para armazenamento de água e rejeitos. Essas estruturas possuem diversas formas e tamanhos de acordo com a sua utilização, por exemplo, para contenção de enchentes e água para geração de energia elétrica.
Porém, o que está em questão depois do rompimento das barragens de Fundão e Córrego do Feijão é a necessidade dessas construções para depositar rejeitos de minério. São as mais baratas e menos seguras em comparação com outros tipos de armazenamento de minério. O minério de ferro é uma commoditie mineral, uma mercadoria que pouco sofre alteração, como o ouro, alumínio, petróleo etc. Importante para a pauta de exportação, sendo um dos maiores consumidores a China, o que faz com que o Brasil tradicionalmente invista nesse produto.
Durante o processo de tratamento e beneficiamento do minério de ferro ocorrem várias etapas como britagem da rocha, que contém alto teor de ferro, peneiramento, moagem, classificação e concentração. Nessa última etapa, o rejeito, ou seja, o material que não agrega valor econômico, é separado com a utilização da água e estocado, por exemplo, em barragens. Esse rejeito estocado contém grandes índices de toxicidade.
Esse é o tipo de mineração mais adotado pelas mineradoras atualmente, o que reduz o custo de sua operação. Porém, existe outro jeito, mais caro de produzir o minério de ferro, que é a mineração a seco, já adotada pela Vale em Carajás.
A mineração a seco consiste em retirar da própria rocha o minério e realizar todo o processo através de britadores específicos, em que levam o minério para usinas para executar somente a britagem e o peneiramento. Logo, não há a necessidade de água neste processo, mesmo produzindo rejeitos a seco, mas com diferentes tipos de deposição que podem ser por minas subterrâneas ou em pilhas.
O que encarece nesse tipo de extração e produção de minério é a aparelhagem específica para este fim, por essa razão não ocorre um grande investimento pelas empresas. Segundo elas, a mineração a seco pode encarecer o minério de ferro em algumas regiões do país, elevando assim o preço para exportação. Fora a Vale em Carajás, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) também faz este tipo de extração do minério. Após o crime cometido pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a empresa postou em sua página inicial que até o final deste ano estará processando todo o minério de ferro pelo processo a seco, onde tem uma das suas maiores extrações de minério de ferro em Congonhas.
O processo de desativação desse tipo de barragem é o descomissionamento, o qual a Vale está começando a adotar. Esse processo pode ser utilizado para retirar o rejeito e levado para lugares específicos podendo ter uma parte do material reutilizável para outros fins. Também há alternativa de fazer com que toda a barragem vire uma espécie de “aterro”. Ambos processos ainda que “simples” poderiam ser evitados se esse tipo de barragem não fosse construído.
É importante salientar, que em todo processo de extrativismo (ou seja, retirada de material da natureza) existe um dano a ser considerado, seja ambiental ou social. Esse dano está estritamente ligado ao modelo econômico capitalista vigente, que apropria e destrói os recursos minerais fazendo com que famílias sejam ameaçadas, expulsas dos seus lares, além de contaminação de rios, vegetação e animais. Dentro desse modelo exploratório também há a falta de planejamento de segurança, monitoramento e leis ambientais mais severas que impeçam e punam fraudes em documentos licitatórios. Faltam relatórios de segurança das grandes obras envolvidas, que visam uma maximização da exploração gerando lucros extraordinários.
*Bruna Araújo é geóloga em Mariana.
Edição: Elis Almeida