O programa de educação artística do governo de Minas Gerais, Valores de Minas, realizou a pré-matrícula de 845 jovens estudantes para cursos livres de 2019, porém não deu início às aulas devido à falta de repasse financeiro para o início das turmas. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação - SEE afirmou que o Estado está revendo algumas prioridades e que estuda remodelar e reestruturar o programa a fim de diminuir seus custos.
Estudantes, ex-alunos e apoiadores do programa se reuniram em assembleia na terça-feira (12). Segundo eles, a reestruturação mencionada na nota tem a ver principalmente com a retirada da empresa terceirizada de alimentação e mudanças, ainda não definidas, em relação ao vale-transporte oferecido aos alunos.
Kelvin Cassio, estudante do Valores, afirma que a maioria dos alunos são vindos da periferia e lugares distante da escola. “Para algumas pessoas é a única forma de acesso à cultura, arte e educação. E ainda potencializa o objetivo do programa que é a cidadania através da arte”, reforça. Isadora Ferreira, de 17 anos, fez sua inscrição para cursar pela primeira vez artes visuais no módulo I, primeira fase de formação. Ela acredita que esses direitos são essenciais para que ela faça o curso. “Moro longe, na região do Barreiro, e nem sempre dá tempo de ir em casa me alimentar entre a saída da escola e a ida ao Valores. Eu estou doida para começar logo, mas está difícil”, diz.
A SEE/MG afirmou que vai se reunir com uma comissão de estudantes para conhecer melhor o cotidiano do programa. Uma manifestação artística será realizada pelos alunos na sexta-feira, 15 de março, às 9h, em frente à Assembleia Legislativa.
História de resistência
O Valores de Minas foi criado em 2005 pelo Governo Estadual em parceria com o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas). Os cursos livres são chamados de “Módulo I”, “Módulo II” e “Módulo III”, e, juntos beneficiam, em média, 500 jovens a cada ano. A trajetória dos estudantes da escola é de constante luta para permanência dos cursos e da oferta de novas vagas.
Na troca da gestão de Antonio Anastasia (PSDB) para a de Fernando Pimentel (PT), foi anunciada uma alteração no programa, envolvendo mudança nos cursos, projetos pedagógicos e inclusive a mudança no nome. A partir de então, foi criado o movimento “Fica Valores”, que organizou uma ocupação estudantil de 21 dias nas dependências da escola.
A pauta dos alunos era permanência dos cursos livres, dos direitos à alimentação e vale-transporte, e que o programa entrasse para o orçamento estadual, virando assim uma política pública, e não apenas um programa do governo vigente. No ano seguinte, em 2016, já sem a integração com Servas, apenas com a Secretaria de Educação, uma nova ocupação é realizada, desta vez durante 46 dias, por causa da falta de vale-transporte. Wiara Costa, ex-aluna dos cursos livres, participou de ambas as ocupações e ao ser perguntada como se sentia lutando novamente contra o sucateamento do programa ela respondeu: “Lutas por esse projeto tão bonito e único no Estado são desgastantes, mas nada que vai fazer nós, jovens, desistir do programa. Já que mudou tanto minha vida, a gente quer que ele mude outras pessoas também”.
Edição: Joana Tavares