O massacre na escola em Suzano dá uma bofetada na cara do Brasil. É mais uma notícia muito triste, de uma coleção delas, que têm surgido todos os dias. Estariam elas desconectadas ou fazem parte de um mesmo contexto?
Só assassinatos, podemos lembrar vários. A Vale matou mais de 300 pessoas em Brumadinho. Um segurança matou um jovem asfixiado em um supermercado do Rio há menos de um mês. Todos os dias pelo menos 13 mulheres morrem no país vítimas de violência. O Brasil é campeão mundial em mortes por arma de fogo, com 47 mil mortes por ano.
Somos também campeões em aprisionamento, com uma gigantesca população encarcerada. Em sua maioria homens, jovens, negros e pobres. Essas estatísticas precisam ser vistas à luz da nossa desigualdade social. O Brasil é o 9º país do ranking mundial em desigualdade de renda. Aqui, a separação entre ricos e pobres é gritante, absurda, violenta e extremamente prejudicial à democracia e ao desenvolvimento. Enquanto uns poucos têm acesso às melhores faculdades do mundo e andam com carros de meio milhão de reais, a grande maioria da população vive na luta diária pela sobrevivência.
Por interesse dos de cima, não se percebe que acabar com a desigualdade social deveria ser o problema número um do país.
Todas as medidas adotadas desde o golpe do impeachment acenam para o agravamento da desigualdade, o aumento da violência e a piora das condições de vida dos mais pobres. Ao mesmo tempo, preservam privilégios e concentram renda.
O congelamento dos gastos públicos com saúde e educação por 20 anos aumenta a calamidade pública ano a ano. A liberação do porte de armas tornará massacres, como o de Suzano, ainda mais comuns. A proposta de reforma da Previdência congelará as atuais aposentadorias, e tornará inalcançáveis novos benefícios para a grande maioria, além de reduzir o valor para aqueles que conseguirem se aposentar. As privatizações entregarão o que é público, para a ganância do lucro, tornando crimes como os de Brumadinho ainda mais prováveis.
Os de cima sabem que esse massacre planejado, mas camuflado, de ajuste fiscal e saneamento dos gastos gerará reação. Por isso, tratam de se antecipar e desde já criminalizam movimentos populares, retiram recursos dos sindicatos, matam lideranças como Marielle e tantas outras.
Tentam conter o Brasil do povo brasileiro de nascer. Não conseguirão. Os de baixo já fizeram muitas revoltas e rebeliões e seguirão fazendo.
Edição: Joana Tavares