Na última coluna escrevi sobre erros científicos do cinema. Citei alguns deslizes que as direções dos filmes cometem e que, na maioria das vezes, passam desapercebidos pelo público. Geralmente são detalhes que não influenciam drasticamente na trama.
Mas, e quando o erro científico é um elemento central da história, que deixa de fazer sentido se ele não estivesse ali? E quando a obra em questão revolucionou o cinema e é considerada um clássico da ficção científica? Dá pra simplesmente ignorá-lo?
Isso ocorreu em Matrix. Você já percebeu o imenso erro científico que há nesse filmaço?
Como já se passaram 20 anos da estreia, vamos primeiro lembrar a trama. No início do século XXI a humanidade cria robôs com inteligência artificial. Logo, uma guerra entre humanos e máquinas se inicia. Em uma medida desesperada, nosso lado cobre o céu com gases para impedir que os robôs tenham acesso a sua fonte de energia, o Sol. Mas as máquinas contornam tal problema ao cultivar seres humanos. Passam a extrair eletricidade diretamente de nossos corpos, enquanto aprisionam nossas mentes em uma realidade virtual, a matrix.
A vida na Terra só existe devido à energia do Sol. Aprendemos isso na escola, quando estudamos a cadeia alimentar, lembra? A luz solar é utilizada por seres como plantas e algas para a produção de substâncias orgânicas. Essas servem de alimento para os animais.
No filme, uma imensa quantidade de pessoas é presa para ter extraída de seus corpos a energia que faz o império robô existir. Mas, como as máquinas fazem para manter os seres humanos vivos? O que usam para nos alimentar?
Na lógica do filme, o corpo humano é capaz de criar energia do nada, e passa a substituir o Sol como fonte energética das máquinas. Mas isso é impossível. Um princípio da física seria quebrado. O mesmo que impede a existência dos chamados moto-contínuos, motores que funcionariam eternamente sem uma fonte externa de energia. Em Matrix, as máquinas transformam a Terra em um imenso moto-contínuo.
Ao tampar o Sol, a humanidade sacrificaria toda a vida do planeta, não só as máquinas. O Sol é a fonte externa de energia que mantém o “sistema Terra” em funcionamento.
A ecologia inclusive nos ensina que quanto mais na base da cadeia alimentar um organismo está, maior é o rendimento energético dele. Ou seja, se tivessem o Sol, para os robôs, faria muito mais sentido cultivar plantas do que humanos. É justamente o que nós fazemos!
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais
Edição: Joana Tavares