Minas Gerais

82 anos de história

“Fica Inconfidência!”: mineiros fazem mobilização popular para salvar a rádio

Além de fechar frequência AM, governo Zema afirmou que fechará FM se emissora não se tornar lucrativa em um ano

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Rádio é conhecida como "Gigante do Ar" e já foi premiada como melhor do Brasil
Rádio é conhecida como "Gigante do Ar" e já foi premiada como melhor do Brasil - Foto: USP Imagens

Comunicadores, músicos, políticos, ouvintes, funcionários e ex-funcionários da Rádio Inconfidência lançaram nesta semana a campanha "Fica Inconfidência", em resposta ao fechamento da frequência AM da emissora pública de Minas Gerais (880 MHz) e contra a possível demissão de trabalhadores, entre concursados, terceirizados e comissionados. O desligamento dos profissionais foi anunciado pelo governo Zema (Novo), que estipulou, ainda, o prazo de um ano para que a rádio se tornasse autossustentável e faturasse R$ 3 milhões por ano. Caso isso não aconteça, a FM também será encerrada.

O governo de Minas justifica a decisão com um decreto assinado em 2013 pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), que autorizou a migração das rádios AM para FM. A partir do avanço da tecnologia, o novo padrão da radiodifusão indica a passagem do sinal analógico para o digital, porém, de acordo com funcionários da Inconfidência, não houve qualquer conversa sobre a migração, mas apenas sobre o cancelamento da concessão.

"Quando a Dilma estabeleceu esse acordo com as emissoras para a migração, isso se deu a partir de uma avaliação técnica que é mundial, uma tendência. Mas o que muda é só o tipo de onda, não há necessidade de extinguir a AM", explica o jornalista Aloísio Lopes, integrante do comitê mineiro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e representante da sociedade civil no Conselho Curador da TV Minas.

Para ele, essa seria uma maneira que Zema encontrou de interromper os trabalhos da rádio, ignorando a necessidade da população pela comunicação pública. "Fechar uma emissora dessas é fechar os olhos para demandas de informação que a sociedade apresenta há muitos anos. Programação suficiente tem. Poderia ocupar essa segunda faixa de FM com programas educativos, voltados para a população do do campo, juventude, crianças, mulheres, saúde pública... E essas demandas não são atendidas pelo setor comercial, que está atrás do lucro e de quem paga mais, com emissoras que já existem aos montes no mercado. Isso é papel das emissoras públicas, voltadas para o interesse público", ressalta.

Desmonte à vista?

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Alessandra Mello, considera que a medida de Zema é apenas o início de um desmonte completo da rádio e de outras empresas estatais. Ela informa que o sindicato está recebendo manifestações de ouvintes de várias regiões de Minas, do Brasil e até de fora do país. "O governador mostra que não tem nenhum apreço pela cultura ou pela comunicação", critica.

O sindicato também irá acionar a Justiça pela ilegalidade da demissão dos trabalhadores concursados, que têm os direitos garantidos em legislação federal.

Músicos independentes prejudicados

Antes de anunciar o fim da AM, o novo comando da rádio, que agora está nas mãos de Ronan Scoralick, já havia demitido o radialista Múcio Bolivar, causando surpresa no público. Na frequência, Múcio comandava há 28 anos o programa Trem Caipira, que tinha como missão apresentar a resistência da música brasileira de raiz e valorizar o interior, falando de congado, viola, folia de reis e mais.

A população avaliou que o programa se descaracterizou após a saída de Múcio e se manifestou na internet, por ligações e também levou faixas para a porta do Palácio das Artes, no Centro de Belo Horizonte.
 


Foto: Reprodução/Facebook

"O programa era mesmo uma referência. Os músicos de todo o Brasil sabiam que era só chegar na Rádio Inconfidência que seriam recebidos de portas abertas. É um prejuízo muito grande para a cultura popular", declara Múcio.

Novo superintendente

Scoralick convidou para se juntar novamente à Inconfidência o jornalista Elias Santos, que atuou como presidente e diretor artístico da emissora na gestão do ex-governador Fernando Pimentel (PT) e foi exonerado no início do mandato de Zema. Elias exercerá o cargo de superintendente institucional.

"Eu topei para que a gente retomasse o [programa] Casa Aberta, que tem um critério bem encaixado com o da comunicação pública e o meu desejo é que ele seja quase uma linha institucional para rádio, com espaço para músicos, participação plural, combate à LGBTfobia, presença da mulher, contato com universidades, etc", pontua Elias, que define a empreitada como "desafio" e afirma que será necessário encontrar um equilíbrio para salvar a Brasileiríssima [nome popular cujo a rádio também é conhecida].

"Temos um problema orçamentário, mas necessitamos de um caráter mais público. Precisamos lutar e achar canais, mostrar que o que é educativo e cultural pode ser popular e não popularesco", comenta.

Mobilização

Uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) acontecerá nesta quinta-feira (11), às 17h30, para discutir a situação da Inconfidência. O endereço é auditório R. Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho.

Patrimônio dos mineiros

A Inconfidência tem 82 anos e é também conhecida como "Gigante do Ar". Já foi premiada como melhor rádio do Brasil pelo Prêmio Mídia do Ano em Comunicação Empresarial pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberge) e se consolidou como espaço de divulgação da música brasileira.

Edição: Joana Tavares