Vítimas da lama da Vale: até agora, 233 pessoas mortas, identificadas, e outras 37 desaparecidas, segundo a Defesa Civil de Minas Gerais. As buscas são realizadas em parceria com o Corpo de Bombeiros. De acordo com a Vale, as famílias recebem apoio médico e psicológico, auxílio funeral e a doação de R$ 100 mil para um representante de cada desaparecido ou falecido.
No entanto, para as 37 famílias, a preocupação central neste momento ainda é garantir um funeral digno. É o que tem acontecido com a família da cabeleireira Sônia Ferreira, cujo irmão Aroldo, mecânico da Vale, ainda não foi encontrado. Ele trabalhou durante 32 anos na mineração e estava prestes a se aposentar. No dia 25 de janeiro, Aroldo estava sob a barragem, quando houve o rompimento.
“Minha mãe está sofrendo muito. Eu tenho medo de chegar a ter morte presumida, porque isso vai ficar na cabeça dela. Se tivessem encontrado o corpo e feito o sepultamento, ia ter um pouco mais de alívio. Eu sei que não importa a matéria, o importante é o espírito, mas o sentimento de mãe que perde um filho não dá para comparar”, desabafa.
Recentemente, conhecidos disseram a Sônia que um trabalhador foi encontrado sob a lama em uma camada mais profunda, o que reacendeu as esperanças da família. “Pode ter corpos mais conservados. Eu tinha até uma esperança. Acharam um corpo com macacão, sem crachá. Os colegas falaram que ele parecia ter o perfil do meu irmão. Ficamos na expectativa, mas não chegou mais nada de notícia”, conta.
Roberto Caldas trabalha no Centro de Valorização da Vida (CVV), organização que atua no apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo de maneira voluntária, gratuita e sob total sigilo as pessoas que queiram conversar. Roberto avalia que o luto sem corpo e um rito adequado de despedida configura uma situação delicada, que demanda acompanhamento.
“Faz parte do ciclo da vida que, quando se encerra uma vida, se coloque um ponto final, que é a questão do luto, do encerramento, de um velório adequado, respeitado, que envolva a presença e o carinho dos familiares. Então, não conseguir concluir o luto gera sentimentos complicados, tristeza e emoções que precisam ser trabalhadas”, comenta.
Segundo Roberto, o CVV atende a essas e outras pessoas, independentemente da demanda. Elas podem procurar apoio por telefone, e-mail ou presencialmente. Uma equipe tem prestado atendimento em Brumadinho, diariamente, na secretaria da Paróquia de São Sebastião “A busca por apoio vem pelos mais variados problemas. Pessoas envolvidas com o fato, sobreviventes e também pessoas que estão afetadas por esse clima pelo qual a cidade está passando”, afirma.
Edição: Joana Tavares