Domingo (5) foi dia de começar a pagar metrô mais caro em BH. Após 13 anos a R$ 1,80, a tarifa agora passa a custar R$ 2,40. Depois, o preço será reajustado a cada dois meses, até chegar aos R$ 4,25 em março do ano que vem. O aumento gradual vai atingir em cheio os bolsos de milhões de usuários e, principalmente, usuárias. E pode gerar uma queda no número de pessoas que usam o serviço. Com essa medida, o governo federal, que já vinha cortando verbas de custeio e investimentos, agora tenta privatizar o metrô.
Até março, serão 163%
Em maio do ano passado, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa responsável pelo metrô de BH e outras quatro capitais, propôs elevar a tarifa da capital mineira para R$ 3,40. Na época, foi protocolada uma ação na Justiça, que concedeu liminar impedindo o reajuste. No último dia 22 de abril, o desembargador Carlos Moreira Alves, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, derrubou a liminar.
Dois dias depois, o Instituto de Defesa Coletiva, entidade que tinha conseguido a liminar, participou de uma audiência de conciliação com a CBTU. Na reunião, foi assinado um acordo prevendo os aumentos escalonados. Em sua página, a CBTU chamou esse aumento de 136% de “reequilíbrio tarifário” e citou o fato de que a tarifa não subia há 13 anos em BH, 7 anos em Recife e 5 anos em Natal, Maceió e João Pessoa. Isto, segundo a empresa, teria gerado um aumento no custo de manutenção do sistema.
Estado tem que garantir tarifa menor
Romeu Machado, presidente do Sindimetro-MG – Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais, afirma que, em quase todo o mundo, o metrô não é autossuficiente. Ele defende que subsidiar a tarifa para deixá-la mais barata é dever do governo. “Quase todo metrô do mundo é subsidiado. Você pode pegar o metrô de Nova Iorque, Tóquio ou qualquer outro lugar do mundo. Eles recebem subsídio público para fazer tarifas mais populares, próximas da realidade da população local. A tarifa não cobre o custeio, até porque o metrô é um transporte extremamente caro para fazer e alterar”, ressalta.
Romeu lembra que, no Brasil, o nível de renda da população exige tarifas mais baratas. “Quem usa o metrô são assalariados, é o pessoal que está procurando emprego, é estudante, são pessoas de renda mais baixa. O governo não pode tirar dessas pessoas, na tarifa, o custeio do metrô. O governo tem o compromisso constitucional de arcar. O transporte é obrigação do Estado”, defende o presidente do Sindimetro. Ele acredita que o aumento pode levar a uma queda na demanda pelo transporte, já que uma parte da população recorre ao metrô por ser muito mais barato que ônibus. Boa parte das pessoas utiliza pelo preço. Se o metrô for quase equiparado ao preço dos ônibus, elas vão optar pelo ônibus, que vai deixá-las mais perto de onde querem ir”, prevê.
As mais prejudicadas
Levantamento da CBTU feito em 2011 apontou que 54% dos usuários em BH eram mulheres. A cientista política Esther Maria Guimarães observa que, por estarem mais sujeitas ao trabalho não remunerado, ao trabalho informal e ao trabalho autônomo, que não contam com o auxílio transporte de um empregador, as mulheres da periferia serão as mais penalizadas pelo aumento da tarifa.
“Isto faz com que elas mesmas tenham que arcar com o custo da passagem, que não é dividido com a empresa. Além disso, as mulheres usam mais o transporte público para trabalho, mas também para outras atividades: o cuidado dos filhos, dos parentes, para acessar hospitais, creches. Isso também é um custo que aumenta na vida delas”, explica.
Edição: Elis Almeida