Na semana em que todos estão encantados com a vistosa Champions League – ou Liga dos Campeões, como a chamamos por aqui – também se aproxima a fase mata-mata da Copa Libertadores, competição que está em sua 59ª edição e cujo regulamento vem sendo alterado.
De um lado estão os mais bem pagos atletas, as arenas irretocáveis, gramados que são verdadeiros tapetes. Não por acaso, partidas como Liverpool x Barcelona e Ajax x Tottenham enchem os olhos não somente de seus torcedores, mas de todos que amam este esporte.
Do lado de cá, o jogo é outro: algumas arenas belíssimas, outras sofríveis. Jogadores bons e ruins, partidas na altitude, buracos no gramado e uma legião de milhões de torcedores que sonham em ver seus capitães levantando a taça mais importante do continente.
As duas competições têm lado bom e ruim, mas não se pode esquecer de que os colonizadores europeus deixaram um legado de desigualdade social nos países sul-americanos e que tais diferenças estão sendo ignoradas pela Conmebol. Não bastassem os assentos numerados para acabar com a geral, a proibição de bandeirões, de sinalizadores de fumaça e até de inofensivos rolos de papel higiênicos, o novo modelo de final única – como é na Europa – também é extremamente excludente.
Por exemplo, ao se comparar trabalhadores que recebem salário mínimo nos dois continentes, o inglês precisa de 130 euros para comprar passagens aéreas para Madrid, cidade-sede da final. Ou seja, menos de 2 dias trabalhados. Já o trabalhador brasileiro que for à final em Santiago gastará 1600 reais com passagens, quase 2 meses de tempo de trabalho. É uma abissal diferença social.
O que funciona lá não necessariamente funciona aqui, e verdade seja dita: qual o perfil de brasileiros que consegue ir à final? Obviamente o dos mais ricos, o que escancara o total descaso da entidade pelo povo latino que, além de sofrer retaliações ao seu jeito apaixonado de torcer, se vê impedido de acompanhar seu time do coração no momento mais importante.
Que o futebol sul-americano não se torne um espetáculo asséptico, apropriado por patrocinadores e torcedores de altas castas. Manda subir o bandeirão que o futebol é do povo!
Edição: Elis Almeida