Será julgado nesta quinta-feira (11) o pedido de reintegração de posse do acampamento Quilombo Campo Grande, que foi construído pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no município de Campo do Meio, Sul de Minas Gerais. A audiência acontece a partir das 13h30 no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em Belo Horizonte. A reintegração seria julgada no fim de 2018, mas foi adiada devido à luta das 450 famílias, que há 20 anos vivem e produzem na terra.
Para o dia 11, as trabalhadoras e trabalhadores também prometem resistência. O movimento enviará cerca de 10 ônibus para que os moradores acompanhem a sessão direto do TJMG. “Isso é para mostrar quem, de fato, são as pessoas que estão naquele acampamento. Que são muitas, mais de 2 mil, que formam famílias. Uma só decisão pode prejudicar uma grande quantidade de vidas”, declara Débora Vieira Borges, que é da direção do MST na região.
Empresa falida deve a funcionários
Quem reclama a posse do terreno é a empresa Cápia, que faliu em 1996 sem pagar os direitos trabalhistas de seus funcionários – alguns não tiveram a baixa na carteira de trabalho até o momento, assim como a rescisão, FGTS e INSS. Aproximadamente 140 das famílias do Quilombo Campo Grande são formadas por ex-empregados ou filhos de ex-empregados da Cápia.
O novo argumento da empresa é de que um investidor estaria disposto a garantir a produtividade do terreno. "É o fazendeiro João Faria. Como é que um falido quer recuperar outro? Estamos falando de uma associação de pessoas corruptas que atuam para extorquir o estado”, questiona a dirigente do MST Tuíra Rodrigues. O empresário João Faria, de quem ela fala, é dono da companhia Terra Forte e já foi o maior produtor de café do Brasil. Hoje contabiliza dívidas que ultrapassam R$ 1 bilhão.
O que o MST faz nessas terras?
Além da produção de café, que no ano passado chegou a gerar 8,5 mil sacas, no Quilombo Campo Grande são 1.100 hectares de lavouras diversas, como milho, feijão, mandioca, amendoim, ervas medicinais, frutas, hortaliças, entre outras.
"Cada uma das famílias tem 10 cabeças de gado. A gente cria porco, galinha... Fora essa agricultura, é uma pecuária fortalecida também. Depositamos muito trabalho e valor nessa terra. Todo mundo aqui tem casa - quase todas com energia elétrica -, temos cooperativas, associações... Não é possível que a Justiça não veja isso”, afirma Débora.
Edição: Joana Tavares