Alunos do cursinho gratuito Podemos +, organizado pelo Levante Popular da Juventude, foram desafiados a criar pautas jornalísticas com assuntos da sua vida cotidiana. O “desafio” é fruto de uma oficina implantada pela jornalista do jornal Brasil de Fato MG Rafaella Dotta, em que os alunos foram introduzidos nos pormenores da atividade jornalística.
Os estudantes foram provocados a pensar um tema para uma matéria jornalística, priorizando o lugar onde moram, com suas qualidades e seus problemas, estabelecendo, assim, diálogos com a sua comunidade. Surgiram temas dos mais variados como a valorização das vilas de moradia popular, os motivos dos jovens que acabam entrando nas drogas e dificuldades da juventude quilombola.
As oficinas, que aconteceram por cerca de dois meses, são parte da programação interdisciplinar do cursinho Podemos +. De acordo com a jornalista, a manutenção da grade curricular das disciplinas regulares é importante, mas, para além disso, o aluno também precisa ter uma formação crítica sobre o mundo, inclusive para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Ter um horário que não tem nenhuma dessas disciplinas regulares e ter a possibilidade de trazer outras ciências, que não estão na escola, mas também são conhecimento, é uma coisa muito interessante para ter uma formação mais completa. É pensar a nossa educação como ser humano”, diz Rafaella.
A jornalista propôs aos alunos estudarem o que é o texto jornalístico, a diferença, por exemplo, entre matéria, reportagem, entrevista, artigo de opinião, e incentivou que eles construíssem um texto jornalístico através de entrevistas, pesquisas e apuração. “A oficina é um estímulo para pensar a mídia, para pensar as notícias que a gente recebe todos os dias e ter o poder de questioná-las. A gente tem que olhar para a notícia sabendo que ali por trás existe um interesse, de alguém que escreveu, de alguém que cortou falas dos entrevistados e de alguém que escolheu as informações para estarem ali”, afirmou.
O que dizem os alunos
Yago Silva Fernandino, de 18 anos, é aluno do Podemos + e pretendente a uma das vagas no curso de direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Essa atividade é muito interessante, pois, além de você ter um conhecimento a mais sobre a área de jornalismo, também te ajuda em outras matérias como redação e português”, relatou. “Tudo isso vai me ajudar a realizar meu sonho de cursar direito”, diz animado.
Já a aluna Priscila de Abreu Evangelista Machado, de 34 anos, argumenta que a oficina trouxe um importante conhecimento sobre a produção e a estrutura do texto jornalístico, que os alunos nunca estiveram habituados a escrever e a analisar. E diz que as oficinas e as disciplinas do cursinho como um todo têm trazido mudanças na sua vida pessoal.
“Isso têm transformado não só a minha vida, mas diretamente a vida da minha filha e indiretamente a vida de minha mãe. Parte do conhecimento que eu recebo eu trago para a minha mãe, mesmo que seja uma notícia, uma informação ou algo do cotidiano”, conta. “Hoje eu acompanho muito mais de perto o desenvolvimento da minha filha na escola do que nos anos anteriores, por exemplo”, completa.
Aulas interdisciplinares: estudar a realidade
As atividades extracurriculares no Cursinho Podemos + acontecem durante todo o ano, com temas diversos a cada semana. A advogada e uma das coordenadoras do cursinho, Bruna Salles, explica que os estudantes terão contato com temas atuais, como Previdência e funcionamento da universidade. O objetivo maior é que isso contribua para formar não apenas alunos, mas transformadores sociais. “Especialmente nos tempos atuais, em que a gente está assistindo a um desmonte e cortes de investimentos na educação pública, as iniciativas como o Podemos + são urgentes. São fundamentais”, defende.
*Guilhermina Alves é aluna do Cursinho Podemos+ e escreveu a matéria como um dos exercícios da oficina de jornalismo do Brasil de Fato MG.
Edição: Elis Almeida