Minas Gerais

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Mulheres quilombolas criam marca de roupa de valorização da negritude

Além de gerar renda, projeto deseja combater êxodo rural, mostrando que é possível viver e trabalhar no campo

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
A Kilombu Modas acabou não sendo apenas uma alternativa, mas um projeto de união, integração com a comunidade e orgulho da cultura negra
A Kilombu Modas acabou não sendo apenas uma alternativa, mas um projeto de união, integração com a comunidade e orgulho da cultura negra - Divulgação

O amor pela terra natal juntou sete mulheres negras e quilombolas na criação da marca de roupas Kilombu Modas, que nasceu em 2018 no Quilombo Santa Cruz, cidade de Ouro Verde de Minas, Vale do Mucuri. Elas, que têm entre 18 e 35 anos e diferentes formações escolares, procuravam um jeito de gerar renda para não deixarem o seu lar pela cidade grande.

A Kilombu Modas acabou não sendo apenas uma alternativa, mas um projeto de união, integração com a comunidade e orgulho da cultura negra. Amaurisa de Souza (31 anos), Denalha dos Santos (25), Jacqueline Lisboa (18), Josiany de Souza (29), Josicleia de Souza (23), Maria Nilza dos Santos (32) e Vanuza Costa (35) fazem tudo quanto é tipo de roupa customizada para diversas idades, assim como panos de prato, toalhas, almofadas, quadros, brincos etc. A equipe se divide em setor de criatividade, vendas e encomendas, divulgação, contabilidade, análise de materiais e trabalha para expandir o serviço de costura. Os produtos são desenvolvidos com inspiração nas variadas vestimentas dos países da África.

A Kilombu começou com dinheiro das próprias participantes, de pouquinho em pouquinho. Além disso, a comunidade apoiou cada etapa, como conta Maria Nilza. "Fico emocionada em falar... É algo que iniciamos recentemente e se tornou grandioso porque as pessoas abraçaram. Fizemos duas festas para arrecadar verba e numa dessas um tio meu, que não tem emprego formal, trabalha na enxada, me disse: 'deixei uma conta aberta na mercearia para vocês pegarem o que precisarem'", lembra. O povo do quilombo também vendeu rifa, cedeu a casa para os eventos, ajudou nas tarefas da noite.

Reação em cadeia

Todas as mulheres nasceram e foram criadas no Quilombo Santa Cruz, uma comunidade que resiste desde o tempo da escravidão. Elas relatam que um dos principais objetivos é mostrar que é possível viver com dignidade sem ter que dar adeus às origens. Querem que outros quilombolas, principalmente mulheres, se encorajem para criar empresas de bolos, biscoitos, mudas e mais o que quiserem.

"Nós, mulheres do campo, que sempre lutamos mas quase nunca temos acesso às políticas públicas, estamos tentando combater o êxodo rural, que acumula problemas, a vulnerabilidade e leva pessoas para caminhos ruins. Nós temos dimensão da autonomia, da liberdade que a marca significa para nós, mas é também dizer que o nosso jeito de viver é possível, que tivemos oportunidade de cursar o ensino superior, que tivemos oportunidade de sair do nosso lugar, mas que queremos ficar aqui. E queremos que todas as mulheres, crianças e jovens tenham a condição de permanecer no campo", ressalta Josiany, que é formada em Licenciatura em Educação do Campo na área de Linguagem e Código pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Outras cinco criadoras da marca possuem curso superior.

Mulheres por mulheres

A iniciativa fez, ainda, com que as fundadoras reforçassem o elo entre elas. Apesar de viverem perto e todos do quilombo serem considerados família – o que, muitas vezes, realmente são –, as mulheres não eram tão próximas quanto agora. De acordo com Josicleia, a Kilombu Modas gerou “crescimento psicológico”. “Foi e é uma evolução para cada uma de nós, sabe? É independência. É nos reconhecer e nos valorizar enquanto mulheres negras”, completa.

Conheça

Acesse a página da Kilombu Modas aqui

Edição: Elis Almeida