Minas Gerais

Entrevista

O Vale do Jequitinhonha cantado por Rubinho do Vale

Violeiro autodidata, nascido na cidade de Rubim, Rubinho é uma das riquezas da região

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
“Foi um processo de experiência perceber que era importante cantar a minha terra”, diz artista
“Foi um processo de experiência perceber que era importante cantar a minha terra”, diz artista - Foto: Nilmar Lage

Conversamos com o músico Rubinho do Vale, com mais de 20 discos gravados e inúmeras canções sobre o Jequitinhonha, seus valores, seu folclore e seu povo. Apesar de ter lançado mais de 20 discos na sua carreira, Rubinho revelou um desejo em fazer um disco específico do Vale do Jequitinhonha, que é algo que ainda não fez. “Não sei se ficaria maçante”, indagou o artista. Nós achamos que não.

Brasil de Fato - No início de sua carreira, você teve alguns momentos especiais com músicas que abordavam o Vale do Jequitinhonha. Em especial, uma que lhe rendeu sua primeira premiação em festivais. Conta um pouco pra gente.

Rapaz, você fez uma pergunta que pouca gente sabe. Antes de eu me assumir como músico, eu ainda estava na faculdade em Ouro Preto e participei do “Festival da Canção Brasileira”. Havia músicos de outros estados e eu, um desconhecido, que compôs uma música que falava da seca que havia castigado o Vale naquela época e que tocou as pessoas. A letra emocionava, mas a melodia era ruim, duas ou três notas. Imagina, eu sou autodidata e estava começando. Tem uma história divertida dessa música, mas não vou te falar agora.

Você disse que passou um tempo sem conseguir premiação em festivais, mas quando voltou a falar do Vale, deu certo.

Eu não tinha música. Queria ir pra estrada, mas não sabia o que cantar. De 1976 até 1980 foi um período de aprendizado, de ouvir e ver muitas coisas. Foi quando comecei a enviar músicas para os festivais, como foi o “Festival da Canção de Minas Novas”, em 1980. Ainda estávamos na ditadura militar, o presidente [João Figueiredo] estava lá e eu ganhei com duas músicas: “Voz do Jequitinhonha", que está no meu primeiro disco e “Despertar”, uma parceria com Tadeu Franco, que depois entrou para outro projeto. Isso fortaleceu a minha identidade. Foi um processo de experiência de perceber que era importante cantar a minha terra.

Pensando nesse processo de construção da sua identidade, e diante do rótulo de “vale da miséria”, criado nos anos 60 para o Vale do Jequitinhonha, você e outros artistas da região lutam para acabar com essa visão errônea. Quando virou a chave? Quando você percebeu que cantar a riqueza do Vale era necessário? O “Procurados” já sinalizava pra isso?

Alguns momentos foram marcantes, mas quando aconteceu em Itaobim o “Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha – Procurados”, foi fundamental. Lá estava Tadeu Franco, Magela de Piraropa, Chico Reis de Itaobim e vários artesão e artistas do Vale. Logo depois do encontro, juntamente com o Tadeu, o Charles de Montes Claros, Taninha de Pedra Azul e outras pessoas, formamos o grupo Terra Sol. Foi um grupo que teve uma vida pequena, foram cerca de oito meses intensos dos quais existem poucos registros, mas foi um marco na minha vida. Era o desejo de cantar, falar do folclore do Vale do Jequitinhonha.

“Despertar” é dessa época, “Viva meu povo”, “Folia de Reis”, “ABC do amor”, que é de domínio público. Tem umas canções desse período que eu ainda canto e outras que tenho vontade de revisitar. Já percebi ali uma canção de protesto, uma proposta de mensagem social e de falar de nossa terra.

Procurados

Nas origens do Festivale, em 1979, vários músicos do Vale percorreram cidades mineiras apresentando um show, cujo cartaz trazia as fotos 3x4 dos artistas, com o título de “Procurados”. Era assim que a ditadura militar tratava os revolucionários perseguidos pelo regime. Em 1980, foi realizada a primeira edição do Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, com tema “Vale, vida, verso e viola”.

Edição: Joana Tavares