Um território onde não tinha escravidão, onde não havia um patrão branco chicoteando negros e negras forçados a trabalhar. Ainda no século XVIII, mas com legislação complexa e participativa. O quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, existiu entre 1730 e 1795. Mais de 60 anos de resistência ativa, de demonstração de que era possível outra forma de organização social e do trabalho. Mas provavelmente você nunca ouviu falar dele. E talvez você não saiba, também, que ele foi comandado por uma mulher, Tereza de Benguela.
Não há muitas informações certeiras sobre ela. Há quem diga que ela passou a liderar o quilombo após a morte do companheiro, José Piolho. Há outros registros que a colocam como a rainha do quilombo desde antes, que era ela quem presidia as reuniões daquilo que funcionava como um Senado. Outra incerteza é em relação ao seu nascimento, se na África ou já no Brasil. Também não se sabe ao certo se havia indígenas entre os habitantes do território livre, mas muitos indicativos levam a crer que sim.
Sabe-se que Tereza liderava e inclusive organizou um exército em resistência à invasão bandeirante, violenta e assassina, que levou à sua morte. As dúvidas e o desconhecimento da história de Tereza falam muito sobre o Brasil. Por um lado, há uma intensa vivência de enfrentamento, de coragem, de ação decidida e dirigente de pessoas oprimidas. Entre essas pessoas, negros, mulheres, negras. Por outro lado, um apagamento sistemático e interessado dessa tradição e a construção de um ilusório “povo pacífico”, uma mentirosa “democracia racial”, mito atrás de mito que escondem nossa formação violenta e resistente.
25 de julho: memória histórica
Em 1992, na República Dominicana, foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Afro-latinoamericanas e caribenhas, e instituído o 25 de julho como dia de luta. Em 2014, coube à primeira presidente mulher da história do Brasil, Dilma Rousseff, sancionar uma lei que colocava o 25 de julho como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Essa homenagem mais que justa e tardia a uma heroína brasileira precisa ser lembrada e celebrada. Mais que isso, precisamos honrar a história de luta e seguir fazendo como Tereza. É preciso resistir ao opressor, seja ele um bandeirante armado, seja um presidente que faz apologia à violência e à morte. É preciso lembrar e contar nossa história, porque a memória e a verdade são revolucionárias.
Tereza mostrou o caminho: é possível construir um território livre. Façamos como ela, todos os dias.
Edição: Joana Tavares