A falta de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) é um problema que afeta a população de Minas Gerais, sobretudo os usuários transplantados que dependem de remédios, chamados imunossupressores, para o resto da vida. Essa medicação, que ajuda o organismo a não rejeitar o órgão recebido, pode chegar a custar R$ 2.500 cada caixa.
A contadora Gilma Tavares Arcoverde passou por um transplante de rim há dois anos. Desde então, ela toma um coquetel que envolve diversas medicações, inclusive dois imunossupressores. Um deles custa por volta de R$ 86 a caixa com 30 comprimidos. Desse, ela toma duas caixas por mês. O outro remédio custa R$2.000 a caixa com 100 comprimidos, mas esse medicamento ela tem que tomar seis pílulas por dia. “Se eu tivesse que comprar essa medicação, acredito que eu gastaria em torno de uns R$ 4300 por mês. E não ganho pra isso”, afirma.
A interrupção do tratamento pode trazer consequências graves aos transplantados, pois coloca em risco o funcionamento dos órgãos recebidos. Antes de receber o novo rim, Gilma foi submetida a 40 sessões de hemodiálise, processo que ela teme se repetir. “No meu caso, consegui uma doadora viva, que é minha prima. Ela se sacrificou para poder me doar um órgão e eu não posso deixar esse órgão dela perder. Até mesmo por amor a ela”, desabafa.
Em audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), promovida pela Comissão de Saúde, na semana passada, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral Pereira da Silva, afirmou que o estoque dos medicamentos imunossupressores foi regularizado. O próximo passo, segundo ele, é distribuir para as farmácias e disponibilizar os remédios para a população. “Essa é uma fase que não é tão complexa, mas não é instantânea. Há um tempo necessário para haver essa distribuição no estado de Minas. Hoje nós estamos com 80% de abastecimento dos medicamentos gerais e, em relação aos imunossupressores, estamos com quase todos com 100% de abastecimento”, declarou.
SUS ameaçado
Em julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) suspendeu contratos com sete laboratórios públicos para a produção de 19 medicamentos de distribuição gratuita pelo SUS. Entre eles, estão insulina e remédios para tratamento de câncer e transplantados. A medida, que também se configura como um ataque à indústria nacional, vai de encontro ao desmonte do SUS que acontece desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
Por exemplo, a Emenda Constitucional 95, de 2016, conhecida como PEC do teto dos gastos públicos, congela investimentos em serviços como educação, assistência social e saúde, por 20 anos. Uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que, nesse período, o país pode perder um total de R$ 745 bilhões em recursos para o setor.
“O futuro do SUS é incerto. Inclusive, o Ministro da Saúde tem defendido o fim da universalidade do sistema, que é um princípio constitucional que todo mundo tem acesso a tudo o que é necessário à sua saúde”, critica Bruno Pedralva, da Rede Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
Edição: Joana Tavares