Dois anos se passaram desde a realocação dos camelôs de Belo Horizonte para os shoppings populares. Nesse período, uma reclamação tem sido constante, a falta de clientes e a queda nas vendas. Desde julho de 2017, após serem expulsos das ruas com a Operação Urbana Simplificada, os ambulantes de Belo Horizonte foram realocados para os shoppings populares UAI, no centro de BH e O Ponto, em Venda Nova.
Na prática, as dificuldades que já vinham sendo apontadas pelos trabalhadores, desde quando Alexandre Kalil apresentou a proposta, se concretizaram. A falta de movimento dentro dos shoppings, faz com que as vendas se tornem cada vez mais escassas. Com a arrecadação em baixa, os trabalhadores estão tendo dificuldades financeiras, inclusive para arcar com o aluguel dos boxes.
De acordo com o que está previsto na Lei que regulamenta a atuação dos trabalhadores, a tarifa do aluguel passa por um aumento progressivo, escalonado de 4 em 4 meses. Com a taxação progressiva, quem já está nos shoppings há 2 anos já gasta R$340,00 com o aluguel do espaço.
Realidade de abandono
Adejailson Severo conta que sofreu uma queda de 95% em sua arrecadação. Recentemente, ele decidiu por devolver seu box para a PBH. Gilmar Carlos da Silva, ainda mantém o aluguel do seu espaço, mas não sabe por quanto tempo. "Meu box está vazio, porque eu não tenho como comprar mercadoria para colocar lá dentro, aí estou trabalhando para os outros pra pagar o aluguel do meu box. Agora eu tenho que me sustentar entregando panfleto. Se minha situação continuar assim, vou ter que devolver o box", afirma.
Já no box do vendedor Robert Pereira de Oliveira, sobra mercadoria, mas falta clientes. "Esse remanejamento foi um lixo. Não tem cliente. Quando a gente reclama eles falam que vão fazer reunião, mas não resolvem nada. Eu preciso de R$ 25 para resolver um problema e eu não tenho esse dinheiro. Não sai nada!" desabafa o trabalhador.
Na proposta da prefeitura, estava previsto que os trabalhadores receberiam auxílios como assessoria para acessar linhas de créditos especiais e cursos gratuitos de qualificação profissional. No entanto, nada disso aconteceu. "Tem muita coisa que estava no contrato, que sequer saiu do papel. A linha de crédito, por exemplo, quando procuramos a Secretaria para saber como acessar, eles falaram que não existia", afirma o representante dos vendedores ambulantes de BH, Adejailson Severo.
Na avaliação do vendedor Ricardo Wagner da Silva, a realocação dos camelôs para os shoppings populares só beneficiou os donos dos empreendimentos. "A situação é de decadência. Antigamente nós nem teríamos condições de pagar o aluguel nesse shopping, de tão bom que ele era. Depois que ele perdeu movimento, entrou em decadência, é que mandaram a gente pra cá", denuncia.
Voltar para as ruas é única solução
Para dar conta de arcar com o sustento de suas famílias os trabalhadores têm se organizado em feiras que acontecem na capital e região metropolitana. Ricardo Wagner da Silva conta que em um dia de feira, chega a ganhar 3 vezes mais do que um dia de trabalho dentro do shopping. "Era um dia que eu poderia estar com minha família, com minha filha de 2 anos. Eu tô abrindo mão de passar momentos com minha família para tentar sobreviver", desabafa.
Um bom ponto de trabalho para os ambulantes é a tradicional feira Hippie da capital. Todo domingo eles têm se organizado para vender seus produtos no local, no entanto, a fiscalização da PBH também tem sido um impasse. "As contas não esperam, a barriga não espera. Precisamos buscar nosso alimento, porque dentro do shopping não dá", declara o ambulante Adejailson.
Retorno da Prefeitura
Sobre as reivindicações dos trabalhadores, a Prefeitura de Belo Horizonte, informou por meio de nota que “há duas comissões formadas por representantes da Prefeitura, do shopping e dos participantes para dialogar sobre as deliberações acerca do programa”, e que “há diariamente contato por parte de representantes da Prefeitura com os participantes, na tentativa de sanar as dúvidas e os problemas decorrentes, sempre de maneira acessível, aberta e democrática”.
Edição: Elis Almeida