Quando ouvimos falar em fim da era industrial, com razão, ficamos mais confusos que esclarecidos. Como pode ter tido fim uma atividade que inunda o mundo com produtos industrializados? Os modelos e as qualidades técnicas dos objetos mudam em uma velocidade nunca vista. O que houve foi uma mudança radical no emprego da força humana na produção de bens de uso e consumo. Nos últimos vinte anos a prestação de serviços, de forma terceirizada, tomou o lugar de muitos funcionários no interior da fábrica. Funções como alimentação, limpeza, contabilidade, transporte, aluguel de equipamentos para fabricar peças e robotização, contribuíram para uma brutal queda de empregos diretos no setor industrial.
Outro fator, talvez o mais desastroso de todos, é a internacionalização de grupos financeiros que exigem a deslocalização das fábricas na busca de mão de obra mais barata, benesses legais e tributárias. A ordem desses grupos é a de que pouco lucro é igual a prejuízo porque o capital também tem custo. Um exemplo: Se na década de 1970 as multinacionais instaladas na América Latina tinham como satisfatório um índice de lucratividade na base de 7%, na atualidade não se contentam com menos de 20%. Seguindo essa lógica da pouca lucratividade, as empresas começaram a paralisar atividades, provocando a recessão no Brasil, na atualidade. Com isso, houve substancial diminuição da arrecadação tributária gerando déficit público na União, estados e municípios.
Uma das causas do fraco desempenho do setor industrial é que, nos últimos 30 anos a demanda por serviços passou a ser mais prioritária que a aquisição de bens. No orçamento das famílias pesa muito os planos de saúde, ensino particular, transporte, telefonia móvel, redes eletrônicas, TV paga, turismo e lazer. Por causa disso as prestadoras de serviços têm aumentado acima da inflação os preços dos produtos. Levando em conta a concorrência em qualidade e preço com os produtos estrangeiros e a “insatisfatória lucratividade”, as indústrias instaladas no Brasil vêm encerrando atividades. No primeiro semestre de 2019, só em São Paulo foram fechadas 2.325 indústrias de transformação de porte médio para cima.
A exacerbação da ambição de lucro na produção industrial tornou-se danosa aos humanos e à natureza. Vem substituindo o trabalho humano por alta tecnologia; reduziu a remuneração dos poucos empregos que permaneceram; faz pressão sobre governantes e sociedade para eliminar direitos trabalhistas e benefícios sociais; lança gazes venenosos na atmosfera e provoca aquecimento global; lança líquidos e rejeitos contaminados nas águas; devasta as florestas em busca de matéria prima e carvão vegetal; agride o solo e o subsolo para aquisição de matéria prima mineral.
Não podemos dizer que a atividade industrial teve fim, mas sim os benefícios sociais que ela proporcionava antes da ofensiva neoliberal e da nova auri sacra fames de lucros.
Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e mestre em história pela PUC-RS.
Edição: Elis Almeida