19 de agosto, o dia que virou noite em São Paulo. Um fato carregado de simbolismo para quem tem o mínimo de preocupação com o rumo das coisas. A maior cidade do país assistiu assustada aos efeitos da terrível crise ambiental que o capitalismo instaurou em todo o planeta.
O céu se cobriu de partículas originadas de queimadas. É verdade que tal fenômeno pôde ser observado em outras cidades do país, e que seus maiores efeitos impactam a região Norte. Mas é muito simbólico que a grande metrópole perceba o que acontece na floresta, a milhares de quilômetros, de forma tão nítida. Escancara-se o fato de que o ambiente é um só. O que ocorre em qualquer lugar da Terra afeta a todos. Os problemas ambientais não são coisa de ecochato, e sim uma grave questão que diz respeito a toda a sociedade.
As queimadas e o desmatamento da floresta amazônica são frutos da ganância do capital. Seus promotores são a elite econômica, o agronegócio e o setor mineral, que veem a floresta e seu território como fonte de lucro. O governo federal, representante desses setores, estimula o crime ao negar os dados científicos que o atestam e ao diminuir a fiscalização. É irresponsável ao elencar como inimigos os povos indígenas e ONGs ambientalistas.
As regiões de latitude média do planeta, localizadas próximo aos trópicos, concentram grandes desertos. É assim por todo o globo, com raras exceções. A maior delas se localiza na América do Sul. Essa região do nosso continente, que engloba grande parte da Argentina, Paraguai, Uruguai, Sul do Brasil até o estado de São Paulo, pela lógica deveria ser um grande deserto. Isso não ocorre graças à floresta amazônica e a um enorme rio voador, maior que o Amazonas em quantidade de água, que sobrevoa essa região e a mantem úmida.
Funciona assim. A água do oceano Atlântico evapora e é carregada pelo vento para o continente, onde cai na forma de chuva. Na Amazônia, as árvores absorvem a água do solo e a devolvem para a atmosfera como vapor. Estima-se que uma árvore de grande porte pode bombear cerca de mil litros de água por dia. O vento segue até encontrar a imensa Cordilheira dos Andes, que então o desvia para a região do trópico de capricórnio.
Se a Amazônia for destruída, esse rio seca. E a região com maior densidade econômica e populacional do continente provavelmente se tornará um grande deserto. Ou seja, perdem simultaneamente os que vivem na floresta e os que vivem na metrópole. Tudo em nome do lucro.
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Elis Almeida