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Mineração

Atingidos pela Samarco são surpreendidos com proposta de negociação de seus terrenos

Falta de tempo para discutir o acordo causa indignação e medo entre moradores

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Há quatro anos, a lama da barragem de Fundão, pertencente à Samarco (Vale e BHP Billiton), destruiu o povoado de Bento Rodrigues, em Mariana
Há quatro anos, a lama da barragem de Fundão, pertencente à Samarco (Vale e BHP Billiton), destruiu o povoado de Bento Rodrigues, em Mariana - Foto: Mídia Ninja

Há quatro anos, a lama da barragem de Fundão, pertencente à Samarco (Vale e BHP Billiton), destruiu o povoado de Bento Rodrigues, em Mariana, matando 19 pessoas e prejudicando milhares de famílias ao longo da bacia do Rio Doce. Agora, atingidos de Bento Rodrigues são surpreendidos com a tentativa de antecipar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que pode autorizar a desapropriação dos imóveis do distrito, o esvaziamento do Dique S4 e a criação de um circuito turístico com o nome “Estrada Parque Caminhos da Mineração”, entre outras medidas. Uma audiência prevista para a sexta-feira (13) foi remarcada para amanhã, quinta (12), em Mariana.

“Eu acho muito estranho porque está sendo tudo na correria, com prazos para assinar. Não vejo essa mudança de data e a forma como está sendo proposto como uma coisa boa para a comunidade, porque esse TAC não foi construído em conjunto com nós, atingidos”, afirma Mônica Santos, moradora de Bento Rodrigues e integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão em Mariana (CABF). Segundo os atingidos, só foi possível acessar a proposta do acordo há menos de um mês.

“Eu não recebi com surpresa, isso para mim já era de se esperar, mas não deixa de ser com muita indignação. Isso nada mais é do que configurar o que já vem sendo tramado nos bastidores dos grandes órgãos, tanto a nível estadual, quanto federal, de que eles [órgão públicos] sucumbiram aos interesses das empresas”, critica Mauro Marcos da Silva, membro da CABF, fazendo referência aos ministérios públicos estadual (MPMG) e federal (MPF), ao Governo de Minas e à Prefeitura de Mariana.

Temores

Atingidos temem perder seu território de maneira definitiva, com a desapropriação dos imóveis e tombamento das ruínas de Bento Rodrigues. Moradores ainda frequentam o local, sob o qual ainda estão enterrados parentes, em um antigo cemitério do povoado, e havia uma igreja construída no século XVIII. Além do valor simbólico e afetivo, o antigo Bento Rodrigues também é visto pelos moradores como uma garantia de reparação.

“Ainda não temos casa, não fomos indenizados, não foi liberado o recurso para o pagamento da matriz de danos. Então, a gente vê que são estratégias do meio jurídico das empresas, que visam a cada vez dificultar mais a nossa reparação, a justa reparação. Eles querem reparar de forma mesquinha, como se tivesse reparando de forma justa, mas, na realidade, estão nos dando migalhas e nos fazendo acreditar que estamos tendo além daquilo que tínhamos”, comenta Mauro Marcos da Silva. 

Reunião

O Termo de Ajustamento de Conduta é uma proposta de acordo entre MPF, MPMG, Governo de Minas, SEMAD, Prefeitura de Mariana e as empresas Samarco, Vale e BHP Billiton. A reunião para discutir o TAC está prevista para esta quinta-feira (12), às 18h, no Coliseum. O endereço fica na Rua Dom Viçoso, 230, Centro de Mariana.

*Com informações do Jornal A Sirene

Edição: Elis Almeida