Minas Gerais

Denúncia

Sucatear para privatizar: velha fórmula é aplicada na Gabriel Passos, em Betim (MG)

Sindicato avalia que Petrobras tem reduzido os investimentos em manutenções, aumentando risco de acidentes

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Dois vazamentos de produtos inflamáveis ocorreram em junho, em uma mesma unidade
Dois vazamentos de produtos inflamáveis ocorreram em junho, em uma mesma unidade - Foto: Reprodução/Petrobras

Antes mesmo do anúncio oficial da venda da Refinaria Gabriel Passos (Regap), a unidade já tem operado em condições bem abaixo das ideais. A denúncia é feita pelo Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro/MG), que é taxativo ao afirmar que a unidade tem sido sucateada já com vistas à sua privatização.
“Nos últimos anos, a Petrobras tem reduzido muito os investimentos em manutenções preventivas e isso tem levado a acidentes graves, alguns deles com potencial para se tornarem grandes tragédias”, alerta Alexandre Finamori, diretor do Sindipetro/MG e também da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Um desses casos ocorreu em 12 de junho deste ano, quando dois vazamentos de produtos inflamáveis ocorreram em uma mesma unidade da refinaria. Em um deles, houve um princípio de incêndio que foi rapidamente controlado, porém, ambos tinham grande potencial para provocar incêndios de maiores proporções ou até uma explosão.
Também este ano, Finamori explica que o sindicato já denunciou mais de uma vez um vazamento de um produto chamado dimetil dissulfeto. Esse vazamento estaria ocorrendo por más condições de acondicionamento do produto - que é altamente tóxico e, inclusive, teria provocado licença médica de um trabalhador.
Esse mesmo vazamento motivou uma denúncia de moradores do entorno da refinaria, que em julho deste ano registraram cinco boletins de ocorrência em razão do forte odor do produto químico na região. 
“Era um cheiro tão forte, de enxofre, que provocava náuseas, dor de cabeça, secura na boca, nos olhos. Piorava de madrugada, entre 3h e 4h da manhã e a gente precisava sair de casa”, relata a advogada Verena Maria Marques da Silva, que, junto com um grupo de mais de 200 pessoas de bairros vizinhos à refinaria, buscou diversos órgãos para denunciar a situação, como o Ministério Público estadual e federal, Câmara de Vereadores, Polícia Militar e Ambiental. Segundo a advogada, o cheiro diminuiu após essa pressão, mas eles estudam entrar com outras ações para pedir reparação pelos danos.
Perguntada sobre o assunto, a Petrobras não se manifestou.
E se a Petrobras se tornasse uma nova Vale?

Explosão na refinaria de Paulínia, em SP, em 2018
Os crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, além da ameaça de repetição em outras cidades mineiras, acenderam um alerta na sociedade brasileira sobre os riscos da privatização. Isso porque a iniciativa privada procura a maximização de lucros acima de qualquer coisa, inclusive da segurança de trabalhadores, do meio ambiente e da população. 
No caso da Regap, um documento ao qual o Brasil de Fato teve acesso traça alguns dos possíveis cenários de acidentes. Um dos piores deles seria a explosão de um tanque de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) - mais conhecido como gás de cozinha - atingindo até 1,5 quilômetro do local do acidente. 
Outro cenário traçado no documento é o de vazamento de gás combustível e sulfeto de hidrogênio (H²S) - que levantaria uma nuvem tóxica que pode ser fatal. A contaminação pode chegar a um raio de até 2 quilômetros do local - atingindo comunidades no entorno da refinaria, como é o caso dos bairros Petrovale, Petrolina e Cascata, em Ibirité. 
Também há um cenário de rompimento de uma barragem de água - conhecida como Lagoa da Petrobrás - mantida pela Regap para abastecimento da indústria. A represa tem capacidade para armazenar 20 milhões de metros cúbicos de água e, em caso de queda, atingiria os municípios de Betim, Mário Campos, Sarzedo, São Joaquim de Bicas. Em alguns deles, como é o caso de Mário Campos e Sarzedo, a água poderia atingir mais de 500 residências em cada uma das cidades.
 

Edição: Elis Almeida