acordar cedinho, passar um café e levar os sentidos para a varandinha de casa.
o olfato e o paladar sentem o café em cada vapor e gole.
sem muito esforço, o olfato ainda percebe um cheiro de banho vindo de algum lugar, pois os sabonetes e shampoos e cremes rinses e desodorantes mais baratos, porque mais fortes, socializam frescores individuais.
de carona, o paladar é assanhado pelo sedutor halo de um pão dormido que, passado na chapa, desperta apetites ao léu.
tato e visão contemplados com o carinho no pelo sedoso e frio do gato que vai se aquecendo aos primeiros raios de um sol que rompe azuis, laranjas, lilases, enfim, a gigantesca paleta de cores a que corresponde o céu de Brasília.
não há os cinzas produzidos pelos veículos automotivos, sonegados pela propaganda para associá-los exclusivamente a status, potência e outros broxantes predicados.
sem estes cinzas que também são ensurdecedores, a audição capta algumas obras executadas pela Orquestra Filarmônica da Espécie, como, alhures, o Réquiem de um casal em agressiva DR, e, acolá, numa república de estudantes, um Concerto para o Pecado em Sol Maior.
tudo isso torna-se perceptível somente porque o "horário comercial", esse regime ditatorial do capitalismo, ainda não está a plenos foles, e, numa subversão medonha de valores, se está num intervalo chamado Vida.
consequência natural(izada) de um sistema no qual o "mais" (em tudo e para poucos) é entendido como satisfação, não como o que é de fato: um vício, e, pois, insaciável.
trabalhadores foram tornados traficantes de lucro.
a Vida, para ser plena, e mesmo única, requer menos – mas com mais atenção.
alegria é perto e mora nos muitos endereços do agora.
boa escolha.
*Z Carota é jornalista e escritor.
Edição: Elis Almeida