Reunidos na Escola Sindical 7 de Outubro, em Belo Horizonte, mais de 100 negras e negros de movimentos e organizações que compõem a Frente Brasil Popular e entidades do Movimento Negro mineiro reafirmaram o protagonismo negro na luta pela democracia. Lideranças de diversas regiões do estado participaram do encontro, que aconteceu nos dias 28 e 29 de setembro, e é ponto de partida para movimentações do próximo período.
Este foi o primeiro Encontro de Negras e Negros organizado pela Frente Brasil Popular MG, com o objetivo de reafirmar que os direitos da população negra são centrais na luta pela democracia. Os encaminhamentos incluem a realização de um Novembro Negro neste ano, com várias ações unificadas no centro, na periferia, nas universidades e centros culturais de BH.
O espaço discutiu ainda as prioridades e estratégias para o próximo período, a partir da conjuntura política e a história do movimento negro em Minas Gerais, no Brasil e no mundo. "É fato que passamos por um momento de resistência, onde nosso principal objetivo é continuar a existir, pois são os corpos, o trabalho e as vidas dos negros e negras que estão sendo primeiramente rifados pelas elites brasileiras nas periferias e comunidades”, diz trecho da carta produzida no Encontro. Em seu segundo dia, contou com rodas de conversa temáticas, reunindo militantes em torno de pautas como mulheres, educação, trabalho, entre outras bandeiras de luta.
"A Frente Brasil Popular assume, junto ao Movimento Negro de Minas Gerais, o compromisso de manter este coletivo de militantes em constante debate, no intuito de criar ou fortalecer os comitês já existentes nas regiões do nosso Estado com o objetivo de ampliar a organização das negras e negros, e apresentar um programa voltado aos anseios do povo negro", sintetiza a carta. O encontro foi transmitido ao vivo pela página da Frente Brasil Popular - MINAS.
Fátima Oliveira
Falecida em 2017, a homenageada do encontro é nascida no Maranhão e foi médica do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Fátima trabalhou no processo preparatório da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (Durban, 2001) e na elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Era membra da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas, e foi da direção nacional da Unegro.
Leia na íntegra o documento do Encontro:
Carta do I Encontro de Negras e Negros pela Democracia – Fátima Oliveira
“Permanece evidente que a verdadeira desalienação do negro implica uma súbita tomada de consciência das realidades econômicas e sociais”. (Frantz Fanon)
Estivemos reunidos em Belo Horizonte, nos dias 28 e 29 de setembro de 2019, mais de 100 negras e negros, entre militantes sociais, sindicalistas, religiosos e intelectuais de várias regiões de Minas Gerais. O Encontro de Negras e Negros pela Democracia, que homenageou a lutadora Fátima Oliveira, foi construído pelas organizações que vêm assumindo o fortalecimento da Frente Brasil Popular.
As esquerdas brasileiras sofreram uma derrota estratégica no último período, sendo o resultado o golpe de 2016 e a vitória eleitoral do governo neofascista e ultraliberal de Bolsonaro e de Zema em Minas.
O pós derrota abre espaços para as autocríticas, e também para as possibilidades de reorganização das lutas sociais.
É fato que passamos por um momento de resistência, onde nosso principal objetivo é continuar a existir, pois são os corpos, o trabalho e as vidas dos negros e negras que estão sendo primeiramente rifados pelas elites brasileiras nas periferias e comunidades.
Porém, para abrir um flanco em meio a este cerco da burguesia brasileira afirmamos ao final do Encontro que:
• A luta por educação pública e de qualidade, pelo sistema único de saúde (SUS), pela infância, o não desmonte das políticas públicas, contra o modelo de mineração, agronegócio e a LGBTfobia, é uma luta contra o racismo.
• Que o capitalismo não pode oferecer uma saída para nós, pois nunca deixará seu caráter dominador e explorador, e nunca seu desenvolvimento econômico poderá ser acompanhado de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente;
• Que o capitalismo brasileiro estruturalmente se sustenta e opera a partir das estruturas do racismo e do patriarcado;
• A democracia e a construção de um Projeto Democrático Popular para o Brasil só serão possíveis se construirmos de fato a segunda, e completa, Abolição da Escravidão no nosso país. Para isto é preciso: a) garantir nossa soberania territorial, dos recursos naturais e preservação das nossas empresas estatais, casados a realização da reforma agrária e urbana; b) e fortalecer a cosmovisão africana;
• As nossas lutas devem buscar impedir os retrocessos das políticas públicas afirmativas e de reparação histórica conquistadas pelo povo negro no último período;
• Nosso retorno às bases dos trabalhadores, junto ao nosso povo, somente será possível com a intensificação do trabalho de base nas periferias, comunidades rurais, terreiros e igrejas.
Desta forma, a Frente Brasil Popular assume, junto ao Movimento Negro de Minas Gerais, o compromisso de manter este coletivo de militantes em constante debate, no intuito de criar ou fortalecer os comitês já existentes nas regiões do nosso Estado com o objetivo de ampliar a organização das negras e negros, e apresentar um programa voltado aos anseios do povo negro.
Também apontamos que faremos um novembro negro em 2019 repleto de ações e lutas contra o racismo. E por último, construiremos em 2020 um processo de formação política entre estas organizações com o foco na Questão Racial no Brasil.
O povo negro unido é um povo forte!
Lula Livre!
Vidas negras importam!
Pátria Livre, Venceremos!”
Edição: Elis Almeida