Na última semana, cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte foram tomadas por uma fuligem procedente das queimadas que se intensificaram nos últimos dias. A fuligem deixou a cidade coberta de cinza e chegou às residências, causando preocupação entre moradores.
Além de destruir vegetação, comprometer a qualidade do solo, atingir a rede elétrica, secar nascentes e reduzir a disponibilidade de água potável, os incêndios de matas podem atingir diretamente a saúde da população, causando adoecimentos.
“Eles podem predispor a asma, bronquite, problemas respiratórios e alérgicos. Esse, aliás, é um dos grandes problemas nas cidades mais poluídas, como mostra um estudo recente. Isso afeta principalmente crianças asmáticas e a gestantes. Predispõe toda a população a problemas respiratórios”, afirma a médica de família e comunidade Clarissa Lages.
A médica explica que algumas práticas podem ajudar a mitigar os efeitos do tempo seco e das queimadas, como o uso de umidificadores. Ela ressalta, porém, que o acesso a esses recursos não é acessível à maioria da população. “É muito complicado pedir à população para comprar umidificador, sendo que muitas pessoas estão sem dinheiro para comprar comida”, pondera.
Clarissa também lembra que a preservação das matas é um fator de saúde coletiva. “A saúde não é só não estar com asma ou bronquite por causa da fuligem. A saúde também é poder conviver com a biodiversidade, é ir ao parque no fim de semana e a vegetação estar ali”, conclui a médica.
Causas e combate
De acordo com o Corpo de Bombeiros, entre os dias 1º e 15 de outubro de 2019, houve mais incêndios de vegetação do que no mesmo período de 2018. Em Minas, foram registrados 817 queimadas, contra 476 no ano passado (aumento de 71,64%). Na Grande BH, esse número passou de 132 casos, na primeira quinzena de outubro de 2018, para 180 no mês atual (aumento de 36,36%).
Tomando como referência os dez primeiros meses do ano, os dados do Corpo de Bombeiros também mostram uma situação preocupante. Minas Gerais teve 10.827 queimadas entre janeiro e outubro de 2018; agora, registra 17.213 queimadas no mesmo período (58,98% a mais). Na Região Metropolitana, o número de incêndios de vegetação passou de 2.385 focos entre janeiro e outubro de 2018 para 3496 em 2019 (incremento de 46,58%).
Desde a última quinta-feira (17), ao menos três grandes focos atingiram a Grande BH: na mata ao lado da Cidade Administrativa, bairro Serra Verde, região de Venda Nova; na mata da UFMG, na altura do bairro Engenho Nogueira, região da Pampulha; no condomínio Alphaville, em Nova Lima. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a hipótese de incêndios criminosos, isto é, causados de maneira intencional, não foi descartada, mas só uma investigação da Polícia Civil pode determinar se houve ou não ação criminosa.
O tenente Warley de Paula Vieira Barbosa, do Batalhão de Emergências Ambientais e Reposta a Desastres, lembra que as queimadas são favorecidas pela falta de chuvas, baixa umidade e altas temperaturas, mas também destaca a interferência humana. “A falta de conscientização da população pode gerar fogo que, quando foge ao controle, pode levar a um grande incêndio. O certo é que 99,1% dos incêndios são causados por ação humana, criminosa ou não”, explica.
A lei federal 9.605/1998, em seu artigo 41, estabelece que é crime provocar incêndio em mata ou floresta, com detenção de seis meses a um ano, além de multa, quando o crime for culposo – sem intenção – e reclusão, de dois a quatro anos, com multa, quando houver intenção criminosa.
Como contribuir
O tenente Warley acrescenta que é possível contribuir de três maneiras para combater as queimadas. “A primeira delas é evitar práticas que possam levar a incêndio florestal. Por exemplo, ao limpar um terreno, fazer a limpeza com roçadeira ou capina, nunca com fogo. Não jogar pontas de cigarro para fora dos veículos também. Além disso, ao perceber que alguma pessoa tenta colocar fogo na mata, fazer a denúncia para o 181, que é o Disque Denúncia, que mantém a identidade em sigilo, ou para o 190 da Polícia Militar. Por fim, ao ver qualquer início de incêndio, fazer contato o mais rápido possível pelo 193”, conclui.
Edição: Elis Almeida