“A arte não reproduz o visível, ela torna visível”. Essa reflexão é de Paul Klee, o artista suíço considerado um dos principais da modernidade clássica. Sua obra é tema da exposição “Equilíbrio instável”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte até o dia 18 de novembro. A mostra reúne, pela primeira vez no continente latino-americano, mais de 100 obras do pintor, além de desenhos, fantoches e objetos pessoais.
Os objetos vieram direto do museu Zentrum Paul Klee, em Berna, cidade natal do artista, e passaram por cuidadosa curadoria: assim como a temperatura é regulada nas salas para garantir a preservação dos materiais, os textos de apresentação das obras também foram pensados para que pudessem instigar a curiosidade, sem rebaixar a inteligência.
Em tempos de perseguição à cultura e ao pensamento crítico, uma exposição como essa relembra o potencial emancipador da produção artística. Nascido em 1879, na Suíça, Klee teve educação musical, mas optou por seguir carreira na pintura. Não foi aceito na primeira escola que tentou, aprofundou sua prática em escola particular, fez viagens importantes – para a Itália e Tunísia – e aprendeu com várias escolas, mas nunca se encaixou propriamente em nenhuma: expressionismo, cubismo, surrealismo. “Eu sou meu estilo”, escreveu.
Ele, que sempre soube seu potencial e inclusive guardou seus desenhos de criança – que fazem parte da exposição atual –, começou desenhando de forma próxima à natureza e foi abstraindo o traço. E tinha o lema, inspirador de disciplina e entrega: nenhum dia sem linha. Essa máxima valeu para o período em que ficou em casa, cuidando do filho e dos afazeres domésticos, enquanto a esposa, Lily Klee, ganhava o sustento da família tocando piano.
Atento ao mundo que o cercava e também ao universo demasiadamente humano, fez figuras de todo tipo, e gostava de anjos e acrobatas.
Fabienne Eggelhöfer, curadora-chefe, do centro em homenagem ao pintor, em ensaio que apresenta a vida e obra de Klee no livro que acompanha a exposição, argumenta que “os acrobatas e equilibristas personificavam o risco inerente ao mundo da arte – em outras palavras, ao de sua própria existência -, com sua coragem e esperança pelo sucesso coexistindo entre o risco e a iminência de uma queda possivelmente fatal”.
Na década de 1920, deu aulas na recém-inaugurada Bauhaus, que queria não só refletir sobre os caminhos da forma, mas também “eliminar a separação institucionalmente fixada das disciplinas artísticas ao se voltar para o artesanato e criar, por meio de um design exemplar, novos objetos e espaços para uma sociedade futura mais humana e socialmente mais justa”, ainda segundo as palavras de Eggelhöfer.
Com a ascensão do nazismo na Alemanha, foi perseguido, assim como centenas de outros artistas. Eggelhöfer conta que obras de Klee participaram de uma exposição, ao lado de 650 outros trabalhos de arte moderna, classificados como “monstruosidades da loucura, do atrevimento, da incapacidade e da degeneração”.
Ele fez 250 desenhos figurativos sobre o período, que apesar de não serem explicitamente sobre o nazismo, refletiam sobre a violência, a perseguição, a humanidade. Teve que retornar a Berna, na Suíça e lá padeceu de uma doença autoimune, que o levou à morte, em 1940.
Suas obras do último período – reunidas na exposição com o nome “Trabalhos tardios” – expressam exercícios de cor, tamanho e abstrações, que, por suas características às vezes infantis, passam uma “impressão primitiva”, segundo suas próprias palavras. Sua última obra, sem título, tem um quê de humor, de força e de expressividade que parecem falar ainda alto nos dias de hoje, vale a pena conferir no CCBB.
Serviço:
Exposição “Paulo Klee – Equilíbrio Instável”
Até 18 de novembro
Das 10h às 22h (não abre às terças-feiras)
Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450)
Edição: Elis Almeida