A reitoria da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) ajuizou um processo de interdito proibitório contra quatro integrantes da comunidade acadêmica, três professores e um estudante. De acordo com a reitoria, eles teriam promovido protestos agressivos, paralisações e bloqueios. Além disso, a reitoria alega a ameaça de invasões do campus.
O processo cita três diferentes manifestações: um ato realizado no dia 12 de setembro, envolvendo estudantes, técnicos e docentes, em repúdio à nomeação do professor Janir Alves Soares, candidato com menor número de votos, para reitor; dois protestos estudantis, nos dias 26 e 30 de setembro, contra o aumento da tarifa do ônibus universitário, que subiu de R$ 2,75 para R$ 3,10.
O Juízo da 2ª Vara Federal Cível e Criminal concedeu liminar impedindo que as pessoas processadas se manifestem em vias de acesso à universidade ou nos prédios da instituição, sob a pena de multa de R$ 2 mil por dia. A professora Anielli Lemes, uma das citadas no processo, contesta a versão e critica a postura da reitoria, de falta diálogo com a comunidade universitária. Essa postura, segundo ela, está associada a uma das principais políticas da nova gestão, de corte de recursos em áreas importantes.
“Ele anuncia cortes, fala com a mídia e só nos avisa. Isso faz com que a comunidade reaja de alguma maneira, via ofícios ou manifestações. Eles colocam no processo que os estudantes cercearam o direito de ir e vir das pessoas. Só que os estudantes estão a favor do direito de ir e vir das pessoas que não têm condições de pagar o ônibus para chegar à universidade e estudar”, critica a professora, que é presidenta da Associação dos Docentes da UFVJM.
Ernesto Elias, estudante de história e presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), também foi processado. Ele conta que as manifestações foram pacíficas, utilizando roupas pretas, cartazes e faixas. Os manifestantes cuidaram para que pesquisadores e pós-graduandos pudessem trafegar livremente pelo espaço, indo trabalhar.
Ernesto questiona o fato de que o processo seja movido contra indivíduos e o modo como a decisão foi tomada pela reitoria. “Nós representamos nossas entidades. Ao invés de a reitoria ajuizar o processo contra as entidades, o fez contra nós. Além disso, a reitoria tomou essa decisão sem discutir nos conselhos colegiados, que são estatutariamente quem rege os processos na universidade. É uma ação autoritária”, afirma.
Eleito sem votos
Em agosto, Jair Bolsonaro (PSL) nomeou Janir Alves Soares, terceiro nome da lista tríplice, como novo reitor da UFVJM para o período de 2019 a 2023. Embora o presidente da República tenha a prerrogativa de escolher o candidato que vai ocupar o cargo, nas últimas décadas, imperava o costume de se respeitar a decisão da maioria da comunidade universitária.
A chapa do professor Janir Soares obteve apenas 5,2% dos votos válidos dos professores, funcionários e estudantes, ficando com a quarta colocação. O primeiro colocado foi seu antecessor, o professor Gilciano Nogueira, que teve 27,37% dos votos válidos.
Outras universidades, como a UFGD, UFTM, UFRB e UniRio também tiveram nomeados candidatos que não tinham o respaldo da maioria da comunidade acadêmica e não eram os primeiros das litas tríplices enviadas por seus conselhos universitários. Na UniRio, aliás, Bolsonaro nomeou um professor que sequer havia participado das eleições.
Edição: Elis Almeida