Para avaliar um governo, é preciso olhar onde está colocando dinheiro. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema foi eleito para ser o “novo”, porém, se aproxima cada vez mais de Jair Bolsonaro e da “velha” política, conforme avaliam especialistas e suas atitudes. O presidente do Partido Novo, João Amoêdo, afirma que Bolsonaro está com os dias contados, mas o próprio Zema diz que se aproxima do bolsonarismo justamente na economia.
Duas regras: privatizações e PPPs
Segundo o doutor em ciências políticas e professor da PUC Minas Malco Camargos, existem duas bases que orientam o governo de Romeu Zema e de Bolsonaro: as privatizações e o investimento em parcerias público privadas (PPPs). O que significa que o governo vai cuidar cada vez menos de serviços públicos como saúde, educação e previdência, entregando esses setores a empresas.
Na área das privatizações os dois políticos seguem lado a lado. Em Minas, Romeu Zema faz suas tentativas para vender a Codemig, a empresa estatal dona da maior jazida de nióbio do mundo, e aceitou privatizar também a Cemig e a Copasa. Em nível federal, Jair Bolsonaro pretende vender diversas empresas estatais, entre elas a Petrobras, Correios, Eletrobras, Caixa Econômica e também a CBTU, dona do metrô de Belo Horizonte.
E não acabou. O professor Malco adiciona mais um ponto semelhante na economia de Zema e Bolsonaro: a defesa das reformas que diminuem direitos dos cidadãos, como a da Previdência. Em 29 de novembro, em visita de Jair Bolsonaro a Minas Gerais, Romeu Zema fez questão de declarar: “Vamos manter o diálogo e lutar para conseguir as reformas de que tanto precisamos para retomar o nosso crescimento”.
Mas por que eles querem vender tudo? O professor Malco explica que os dois políticos tentam construir um Estado mais eficiente, baseado no neoliberalismo, em que tudo é controlado por empresas. “Eles dizem que esse é um modelo de transição e que o resultado virá no futuro, com um governo mais eficiente. Mas o que o cidadão brasileiro e mineiro viveu esse ano é o de precarização de serviços públicos e não de melhora”, conclui Malco.
Menos educação
A deputada federal Margarida Salomão (PT) alerta para a aproximação de Zema e Bolsonaro no ataque à educação. Romeu Zema limitou recursos para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), para a Universidade Estadual de Minas Gerais (Uegm), em setembro fez uma reorganização de turmas em 200 escolas, que na verdade diminuiu turmas, e realiza a rematrícula nas escolas estaduais que pode resultar em menos alunos inscritos.
As atitudes de Zema lembram o que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez com os institutos federais. Em abril, o ministro de Bolsonaro anunciou que 30% da verba dos institutos iria ser retida pelo governo federal. Depois de protestos nas ruas, o governo “devolveu” os R$ 1,5 bilhão para a educação.
Para Margarida Salomão, o governo Zema encerra o ano como uma “enorme decepção”. “Ficou claro que a experiência de um empresário não é coisa que possa ser aproveitada diretamente. A falta de traquejo político do governador levou a uma espécie de paralisia na gestão”, analisa.
Mais polícia
Se o governo não vai dar mais educação, nem saúde, nem aposentadoria, nem vai gerenciar a energia, a água e o petróleo... o que ele vai fazer? De acordo com José Luiz Quadros, constitucionalista e professor de direito da UFMG, lá atrás, no século XVIII, os estados neoliberais foram pensados para garantir a proteção da propriedade privada e a soberania do país. O que quer dizer que, para proteger os bens das pessoas o governo investe em polícia e para proteger as fronteiras investe nas forças armadas.
“Os liberais não entendem que educação, moradia, saúde são direitos das pessoas. Eles pensam assim: a pessoa trabalha e paga sua educação. Se não tiver dinheiro é porque é um incompetente”, afirma José Luiz Quadros. O professor ainda questiona: “A quem a polícia protege? O homem branco que tem grandes propriedades. É muito marcante: nos bairros pobres a polícia põe medo, nos bairros ricos ela significa segurança”.
Governador escorrega quando fala de democracia
O governador Romeu Zema não se afirma como um radical de direita, mas algumas de suas declarações contrariam a própria democracia. “Se de 1964 a 1985 tivemos aqui um regime que alguns chamam de militar, de ditadura, não vem ao caso, eu diria que de 1988, quando a Constituição foi promulgada, até 2018 tivemos algo que chamo de democracia irresponsável”. Para Zema, o maior período em que no Brasil existiram eleições, e que foi governado por direita, esquerda e centro, foi uma “democracia irresponsável”.
Edição: Joana Tavares