Minas Gerais

Ciências

A testosterona aumenta a agressividade?

Ao que parece, o que o hormônio faz é muito mais reforçar comportamentos já existentes do que criá-los

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Somos seres sociais inseridos em culturas milenares, mas, ao mesmo tempo, somos animais
Somos seres sociais inseridos em culturas milenares, mas, ao mesmo tempo, somos animais - Foto: Reprodução

A testosterona é o hormônio responsável pelas características sexuais masculinas. Regula, por exemplo, a formação do pênis no embrião e a produção do esperma a partir da puberdade. Além disso, sua presença leva ao desenvolvimento de caracteres secundários masculinos, como o crescimento de pelos e da massa muscular.

A partir do século XX, a ciência buscou entender a relação entre a fisiologia e o comportamento animal. Diversos estudos sugeriram a existência de uma relação entre a testosterona e a agressividade (e outras características tipicamente “masculinas”, como impulsividade e competitividade). Simples e fácil de ser observado experimentalmente: castra-se um touro bravo e ele fica manso; injeta-se testosterona em ratos e eles ficam mais violentos.

E logo concluímos que diversos fenômenos sociais complexos, como o crime, a violência e o machismo poderiam ser explicados por um mecanismo simples. A culpa seria de uma única substância produzida pelo corpo. Dessa forma, naturaliza-se (e justifica-se) o comportamento dos homens. Matamos, estupramos e competimos por culpa de nossos testículos!

Mas, lembre-se sempre: a realidade é complexa. Respostas simples nunca explicarão corretamente fenômenos complexos.

Assim, estudos mais recentes vieram questionar aquelas conclusões. O que se observou nos últimos anos é que sim, há uma relação entre a agressividade e os níveis de testosterona de um indivíduo. Porém, parece que o que o hormônio faz é muito mais reforçar comportamentos já existentes do que criá-los. Aprendemos em sociedade a ser violentos. A forma como exercemos essa violência é regulada (também) por nossos hormônios.

Por exemplo, um estudo com macacos demonstrou que machos que recebiam testosterona sintética só apresentavam comportamento agressivo com os indivíduos do bando hierarquicamente inferiores a eles. Nunca com os seus superiores. Ora, então quer dizer que a violência não é assim tão incontrolável, não é mesmo?

Ainda é cedo para conclusões aqui. É preciso mais estudos para entendermos como determinado hormônio nos afeta. Apesar disso, acho que algumas afirmações já são possíveis: somos seres sociais inseridos em culturas milenares; ao mesmo tempo, somos animais, sujeitos a determinações biológicas. Nosso comportamento é síntese complexa da relação entre nossos genes, nosso ambiente e nossa história social.

Nada nunca será tão simples quando se tratar de seres humanos.

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da Rede Estadual de Minas Gerais. 

Edição: Elis Almeida