Campo Grande: 8 mil sacas de café, 2 milhões de árvores
Há duas décadas, 450 famílias resistem no município de Campo do Meio, Sul de Minas. É o assentamento Quilombo Campo Grande, criado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para dar vida a um terreno abandonado, antes pertencente à usina de Ariadnópolis. A usina faliu e os trabalhadores foram demitidos sem receber seus direitos. O MST organizou os trabalhadores, que retomaram o controle da terra.
No acampamento, organizado em 11 áreas, as famílias produziram, só no último ano, 8,5 mil sacas de café e 1,1 mil hectares de lavouras com 150 variedades de milho, feijão, mandioca, amendoim, ervas medicinais, frutas e hortaliças. Tudo sem uso de agrotóxicos. Vem do Quilombo Campo Grande o famoso café orgânico Guaií. O acampamento também participa do programa nacional de reflorestamento do MST e, na próxima década, vai plantar 2 milhões de árvores na região.
Carnavais de luta
Entre os dias 1 e 6 de março, dezenas de cidades mineiras foram inundadas por um mar de gente, que se reuniu para celebrar o carnaval 2019. Só na capital, mais de 4 milhões de pessoas pisaram o chão da cidade. A economia girou cerca de R$ 1,5 bilhão, segundo dados da Prefeitura. Destaque para os blocos afro, como o Angola Janga, o Afoxé Bandarerê, o Dreadlocko, o Bloco do Zé Pretinho e outros. Em meio à festa, eles pautaram a luta contra o racismo no Brasil. E também teve muito protesto nas ruas, com milhares de foliões mandando o governo Bolsonaro àquele lugar. E, acima de tudo, a força do carnaval de rua é fruto de anos de luta contra a criminalização da cultura no espaço público.
Plano diretor e moradia para mulheres vítimas de violência
A luta pelo direito à cidade teve vitórias significativas na capital. Após cinco anos de discussões e um impasse na Câmara Municipal, a pressão popular sobre a Prefeitura e os vereadores garantiu a Aprovação do Novo Plano Diretor de Belo Horizonte, agora Lei 11.181/2019. O Plano estabelece regras que disciplinam o uso e ocupação do solo, combatem a especulação imobiliária e possibilitam a disputa por uma cidade justa, onde caibam todas as pessoas.
Outra boa nova foi a aprovação da Lei 11.166/2019 , de autoria das vereadoras Cida Falabela e Bella Gonçalves (PSOL). A norma inclui mulheres vítimas de violência como beneficiárias do Programa Municipal de Assentamento (Proas). Para ter direito ao benefício, a vítima deverá ter sido atendida e encaminhada por órgão ou equipamento público municipal responsável pelo enfrentamento desse tipo de crime.
Cultura e educação: mulheres negras em destaque
Na produção cultural, as mulheres negras ocupam cada vez mais um espaço que historicamente lhes é negado. Destaque para duas intelectuais de Minas Gerais. A escritora Maria da Conceição Evaristo de Brito foi a grande homenageada do Prêmio Jabuti, a mais tradicional premiação literária do Brasil, concedida pela Câmara Brasileira do Livro.
Criada na extinta Favela Pindura de Saia, onde atualmente fica o bairro Cruzeiro, em BH, Conceição Evaristo foi considerada a principal personalidade literária do ano.
A ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos Nilma Lino Gomes recebeu o título de professora emérita da UFMG. Nilma é a primeira reitora negra do Brasil, status conquistado ao assumir a condução da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab).
Escola de Saúde Pública
O governador Romeu Zema (Novo) tentou, em fevereiro, por meio de um projeto de lei, tirar a autonomia administrativa da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG). Na prática, a medida poderia levar ao fim da Escola, já que ela ficaria impossibilitada de conduzir várias de suas atividades fundamentais. Trabalhadores, intelectuais, parlamentares e entidades como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) condenaram a proposta de Zema. A pressão popular foi tão grande que, três meses depois, o governo recuou, retirando o projeto de tramitação.
Criada em 1946, a ESP-MG é a mais antiga na área da saúde em todo o Brasil e cumpre, ao longo de sete décadas, um papel formador na área, qualificando mais de 300 mil profissionais da saúde.
Edição: Elis Almeida