As famílias que moram ao longo da bacia do Paraopeba têm mais uma notícia ruim nesta semana, a poucos dias de o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, completar um ano. A ONG SOS Mata Atlântica acaba de lançar um estudo sobre a qualidade da água do Rio Paraopeba, reafirmando que está “sem condições de uso”.
A pesquisa coletou água em 23 pontos do rio durante um ano. Desses, nove apresentaram péssima qualidade, 11 apresentaram qualidade ruim e apenas um ponto de coleta estava com qualidade regular. Nenhum ponto apresentou qualidade boa ou ótima.
A turbidez variou de cinco a 13 vezes acima do permitido pela legislação, sendo o ponto mais alto encontrado no município de Paraopeba. A ONG destaca que o período das chuvas muda o cenário, já que leva os rejeitos para o Baixo Paraopeba, ao Reservatório de Retiro Baixo. Isso, na prática aumenta as chances de que a contaminação chegue ao Rio São Francisco.
Ferro, manganês e cobre acima do permitido
A presença de metais pesados é mais uma preocupação demonstrada na pesquisa. Foi encontrado 0,45 miligramas por litro de cobre, valor 44 vezes mais alto que o permitido. O manganês foi encontrado na quantidade de 2,3 miligramas por litro, 14 vezes acima do permitido. Enquanto o ferro, que não deveria ser encontrado no rio, está presente em 6 miligramas por litro, que é 15 vezes acima do permitido. A cor avermelhada do Rio Paraopeba seria a combinação de ferro e manganês.
A presença dos metais pesados no corpo humano pode se mostrar em vários sintomas, como rigidez muscular, tremores, fraqueza, náuseas e vômitos. Além disso, causa no rio a diminuição drástica das bactérias que têm a capacidade de degradar matéria orgânica, e, assim, ajudariam na regeneração do Paraopeba. Em 11 dos pontos analisados foi percebido ambiente sem condições à vida aquática.
“Muito pouco vem sendo feito”
Todas as cidades que captavam água no Rio Paraopeba foram orientadas a cancelar as operações. Desde o rompimento da barragem, em 25 de janeiro de 2019, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) vem afirmando que a água do rio não tem condições de uso.
Durante a coleta da água para análise, a SOS Mata Atlântica afirma que passou por 356 quilômetros do Rio Paraopeba, conversando com populações de cidades, comunidades rurais e ribeirinhas. “Muito pouco vem sendo feito”, de acordo com a ONG. Nas propriedades rurais e ribeirinhas, a água chega por caminhões pipa e garrafas de água. “Pelo rio, o que chega é a poluição que vai aumentando gradativamente com o período chuvoso”, atesta o estudo.
É possível ver o rio limpo de novo?
Joceli Andrioli, da coordenação do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), opina que é possível recuperar Rio Paraopeba, mas se gastará bilhões de reais no processo de reparação. “O principal são as obras de estancamento dos rejeitos, que ainda não foram finalizadas pela mineradora. Depois, é preciso retirar a lama contaminada do fundo do rio e isso a Vale não vai querer fazer. Ela não fez até hoje no Rio Doce”, avalia.
“Se fosse quantificar o valor do prejuízo do crime, de fato o maior valor é a reparação ambiental. Na Alemanha eles usaram 100 bilhões de euros pra fazer a revitalização do Rio Reno, que é semelhante ao Rio Doce. Imagina, 400 bilhões de reais para revitalizar o Rio Doce? A Vale jamais vai querer gastar esse dinheiro. E é por isso que ela separa nas negociações a parte ambiental da parte social, ela não quer ser humano vinculado ao meio ambiente. É a estratégia para não pagar a conta”, completa Joceli.
Encontro dos Atingidos
Desde o dia 20 de janeiro, o MAB organiza uma marcha de 300 km que começou em Belo Horizonte e finaliza no sábado (25), em Brumadinho. Durante a programação, foram organizados atos públicos, fechamento de ferrovia e um seminário internacional com a presença de atingidos de 16 países.
Edição: Larissa Costa