Centenas de balões vermelhos foram lançados ao céu em homenagem às 272 vítimas fatais do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Milhares de pessoas se reuniram na entrada da cidade às 9h deste sábado (25), onde aconteceram atos religiosos dos mais variados e a frase "dói demais o jeito que vocês foram embora" ecoou e ecoou em música, cartazes e camisetas.
Uma caminhada, que fez a primeira parte do ato, representou a unidade das comunidades de Brumadinho. Três guardas de Congado puxavam a pequena multidão, seguidos pelos índios da aldeia pataxó e, em seguida, marchavam cerca de 3 mil pessoas sob hinos católicos. No retorno ao letreiro, falaram algumas referências de igrejas evangélicas.
Nair de Fátima Santana Silva, de uma das guardas de congo e dos quilombos Marinhos (Sapé, Rodrigues e Ribeirão), participou da romaria para dar apoio às famílias que perderam seus entes. "E também pra ajudar no protesto contra esse crime horroroso. Que a perda da vida dessas 272 mártires não seja em vão, que tenha justiça contra esse crime que aconteceu", diz. Ela pede que Deus ajude a mostrar onde estão as pessoas ainda desaparecidas, pois "luto sem corpo é ainda pior", opina.
Em sua maioria, compareceram os familiares da vítimas, que eles chamam de "joias". Na parte mais emocionante do ato, ao microfone leu-se os 272 nomes de mortos e desaparecidos e, a cada nome, a multidão, em lágrimas, respondia "presente!".
Um grande crime, nenhum avanço
A deputada estadual Leninha (PT), presente na romaria, avalia que o crime cometido pela Vale não se traduziu em aprendizado. "Apesar do esforço pra aprovar o projeto Mar de Lama Nunca Mais, a gente viu que isso não foi suficiente pra barrar um projeto de desenvolvimento baseado no minério em Minas Gerais. Depois de quatro anos de Mariana, teve autorização pra Samarco voltar a minerar na região. E a gente está vendo outros processos de licenciamento no estado sendo concedidos", comenta a deputada. "Estamos nas ruas de Brumadinho depois de um ano porque ainda tem muita injustiça".
Dom Vicente, bispo da arquidiocese de Belo Horizonte e organizador da romaria, lança hoje um livro de relatos em prosas e poesias, o "Brumadinho - 25 é todo dia".
"Nós temos uma grande luta pela frente que está apenas começando, a pedido do Papa Francisco, da nossa igreja, nós temos que mudar nossa relação com o meio ambiente. Se Jesus disse 'eu vim pra que todos tenham vida' e eu estou diante de uma mineradora que mata, ela está contra Jesus e tem que provocar na nossa igreja uma reação", argumenta.
Relembrando o um ano do rompimento, o bispo afirma que essa é apenas a primeira romaria e promete a mesma ação para os próximos anos.
Programação continua
Hoje ainda acontece na cidade uma missa com Dom Walmor, presidente Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), às 17h, e um momento cultural, às 19h, com a Banda de São Sebastião e Orquestra de Inhotim.
Edição: Raíssa Lopes