272 badaladas. O som dos sinos quebrou o silêncio do luto vivido em Córrego do Feijão. As batidas saudaram cada uma das vítimas do crime da Vale. Ali na Igreja de Nossa Senhora das Dores - que outrora foi pouso dos helicópteros de resgate -, dezenas de familiares e atingidos pelo crime celebraram a memória dos que se foram.
Mas o silêncio do luto também deu lugar para a indignação. Juliana Cardoso afirma que no dia 25 de janeiro perdeu não só o sogro, mas toda a sua comunidade. Para ela, a impunidade dada às mineradoras na Bacia do Rio Doce abriu precedente para que a empresa cometesse um novo crime. Juliana afirma que agora sua luta cotidiana é para que outras famílias não sofram o que a sua família têm sofrido. "A nossa comunidade continua sendo massacrada pela dor e pelo abandono da empresa, que fez de nós e de nossa comunidade um cemitério", desabafa.
Crime premeditado
Ana Paula perdeu o marido, vítima do rompimento. Para a viúva, o que aconteceu em Córrego do Feijão jamais deve ser chamado de acidente. "Essa mina estava prestes a fechar porque não tinha mais minério nela. O único minério rico era o que estava dentro da barragem", denuncia. Ana Paula relembra, ainda, que em Córrego outra barragem de rejeitos está em risco, mas nenhuma providência tem sido tomada para evitar outra tragédia. "Pra eles só importa o lucro. Nós somos só números".
A crítica de Ana Paula é endossada por Jeferson Coutinho, que perdeu a avó e uma tia. "Treinaram essas pessoas pra morte, porque a rota de fuga dava em ruas como essa, que foram soterradas. Violaram o direito sagrado à vida e agora nos tratam como culpados pelo crime que a Vale cometeu".
A celebração em Córrego do Feijão, em memória às vítimas do crime, terminou com uma homenagem na rua do distrito que foi completamente tomada pela lama de rejeitos. Foi nesse local que Reginaldo Almeida teve a certeza de que nunca mais veria o cunhado Samuel da Silva Barbosa, que há 13 anos trabalhava como técnico de segurança da mina. "Quando a gente viu a lama aqui, perdemos a esperança de que encontraríamos ele vivo", relembra.
Apesar da data, os atingidos e familiares não puderam se aproximar dos rejeitos, já que todos os lotes ao redor da antiga rua foram comprados pela Vale, assim como inúmeras casas da comunidade. A empresa exigiu que fosse organizada uma fila única, na qual os familiares só podiam acessar o local até a cancela que marcava o início da propriedade da mineradora. Na cerca foram deixadas centenas de rosas brancas em memória às vítimas.
Edição: Raíssa Lopes