As famílias das vítimas com suspeita de contaminação pela substância dietilenoglicol, presente em cervejas da marca mineira Backer, lançaram uma carta aberta à comunidade nesta segunda-feira (10). Elas denunciam o comportamento da cervejaria, que não estaria fornecendo a assistência necessária aos consumidores atingidos.
De acordo com o texto, os pacientes estão lidando com consequências graves de saúde. Alguns estão em coma, outros tetraplégicos, entubados, com paralisia facial e problemas nos rins, fazendo diálise diariamente.
"Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão", reforçam os parentes.
A Backer também estaria apresentando resistência para arcar com as despesas dos tratamentos médicos e descumprindo acordo firmado com o Ministério Público, que ordenou, no dia 31 de janeiro, que a empresa fornecesse reuniões individuais com os representantes das vítimas, além de apoio psicológico às famílias. "Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência", diz o documento.
A Polícia Civil investiga 34 casos de intoxicação que podem estar ligados ao consumo das cervejas Backer. Até o momento, seis pessoas morreram e a fábrica da empresa continua interditada.
Leia, na íntegra, a carta escrita pelos familiares:
CASO BACKER – CARTA ABERTA DAS VÍTIMAS À COMUNIDADE DE MINAS GERAIS
Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2020.
As vítimas da intoxicação por dietilenoglicol e seus familiares vêm, por meio desta carta aberta, denunciar o comportamento atroz que a Cervejaria Três Lobos - Backer vem apresentando perante os consumidores que estão com gravíssimos problemas de saúde após a ingestão da cerveja Belo Horizontina.
É importante desde já indicar que dentre os mais de 30 (trinta) casos relacionados e 6 (seis) mortes, existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão.
Diferentemente do que a empresa afirma na mídia, ATÉ AGORA, MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS DA CONFIRMAÇÃO DO CASO E 5 (CINCO) DIAS DEPOIS DO PRAZO ESTABELECIDO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, A BACKER NÃO PRESTOU QUALQUER AUXÍLIO.
No dia 30 de janeiro deste ano, o Ministério Público de Minas Gerais notificou familiares das vítimas e a cervejaria para uma audiência pública, na qual ficou ajustado que a cervejaria custearia as despesas envolvendo o tratamento de saúde das vítimas intoxicadas e auxílio psicológico a todos os familiares. Ficou acordado que a empresa realizaria reuniões individualizadas com os representantes das vítimas e, em 72 (setenta e duas) horas, efetivaria o custeio das despesas por eles apontadas ou apresentaria negativa fundamentada.
Durante essas reuniões individualizadas, ocorridas em 03 de fevereiro, o enfoque da Backer passou longe de ser a saúde das vítimas. A empresa pretendia coletar informações por meio de um questionário que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento. Tratou-se de investigação própria que pode até mesmo embasar teses de defesa em face das vítimas. Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como "vocês não sabem o que a Backer está passando" ou "está cheio de oportunistas por aí" para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa.
Em 06 de fevereiro, a empresa enviou nota à imprensa comunicando que por iniciativa própria (o que não é verdade), recorreu ao Ministério Público para ampliar o apoio humanitário que tem dado aos familiares dos consumidores intoxicados pela cerveja Belo Horizontina, e informando que a logística do atendimento seria definida e formalizada junto aos familiares. Além disso, disseram que seria informado contato para agendamento com psicóloga.
Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência. Mesmo após o vencimento do seu prazo de 72 horas, a empresa ignora o nosso sofrimento.
Perante a mídia, no entanto, a Backer informa que está prestando assistência, inclusive por questão de humanidade e solidariedade. Onde está a humanidade em ser tratado como número, com descaso e sem respostas?
Como se não bastasse, a empresa utilizou do prazo concedido de boa-fé pelo Ministério Público de Minas Gerais e todas as vítimas da intoxicação para tomar providências em benefício próprio. O Pub Backer Gourmet, localizado no aeroporto de Confins, já teve seu nome alterado. Qual é o próximo passo? Esconder patrimônio?
Temos certeza de que a comunidade mineira deseja que nossas empresas prosperem, mas não às custas de vidas, desprezo e tanto desamparo. A falta de respeito conosco e a postura dissimulada da empresa devem ser de conhecimento de todos, contamos com a ajuda de cada um de vocês.
Minas Gerais não merece ter mais essa marca em seu povo.
Libertas quæ sera tamen.
Edição: Elis Almeida