A Polícia Militar de Minas Gerais protagonizou mais um constrangimento grave aos blocos de rua de Belo Horizonte. O cantor dos blocos Havayanas Usadas e Raga Mofe, Heleno Augusto, registrou boletim de ocorrência por ter sido surpreendido em sua residência por dois policiais militares.
Sem dar maiores explicações, os policiais teriam determinado que o músico divulgasse mensagens de segurança da PMMG, que pode-se entender como uma propaganda do trabalho da corporação. Os dois policiais teriam ainda "advertido" que o bloco deveria se abster de adotar qualquer gesto, palavras ou ações que tenham potencial de incitar nos participantes atos que "atentem contra a segurança e a tranquilidade pública".
"Aconselharam" ainda que o cantor, no término do bloco, deveria "dirigir-se, de maneira mais ágil possível para área diversa do local de realização do evento".
Matheus Brant, do bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, explica que durante o ano são feitas várias reuniões com a Polícia Militar, Bombeiros, Secretaria Municipal de Transporte, limpeza urbana e Guarda Municipal em que são orientadas algumas mensagens de segurança para que os blocos as repliquem, o que é acatado. "É uma obviedade, todo mundo quer que ocorram os trajetos na maior paz possível", diz.
"Essa ação de ir à casa de um dos organizadores de um bloco não faz nenhum sentido, dentro deste contexto em que há diálogo permanente entre as forças policiais e os blocos", afirma
Uma nota assinada pela Liga Blocada, união de seis grande blocos da capital mineira (Havayanas Usadas, Sagrada Profana, Unidos do Samba Queixinho, Então Brilha, Chama o Síndico e Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro), destaca ainda que as atitudes da Polícia Militar se demonstram, agora sem dúvidas, como uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. Os blocos dizem temer o que pode acontecer nos desfiles do Havayanas Usadas e Raga Mofe, pois não abrirão mão da sua liberdade de expressão.
Diversos entraves e repressão
Na semana que antecedeu o carnaval de BH, a Polícia Militar surgiu com uma nova exigência de documento que, na prática, inviabilizaria dezenas dos maiores cortejos. Depois de muita correria, vaquinha, mudanças de data/horário e o empréstimo de carros de som pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), muitos dos blocos conseguiram reorganizar seu cortejo, mas ainda assim estão enfrentando problemas.
Na sexta-feira (21), o bloco Roda de Timbau teve inúmeras exigências feitas pela PM de detalhes que atrasaram em duas horas o início do cortejo, como o pedido para retirar a lona em cima do trio e suas hastes, e depois o pedido para recoloca-las. O final também foi "adiantado". Previsto para terminar às 22h, o Roda teve seu trio cercado por policiais com armas em punho às 21h30.
Já no sábado, o bloco Volta Belchior teve seu cortejo interrompido por cerca de 15 minutos por uma exigência do Corpo de Bombeiros, que quis fazer uma vistoria no trio elétrico.
Blocos levam faixa Fora Zema
Por tudo isso, os blocos de Belo Horizonte estão se manifestando contra as exigências injustificadas da Polícia Militar e contra o governador Romeu Zema (Novo). Na manhã de sábado (22), o enorme bloco Então Brilha carregou em seu trio a faixa "Carnaval não é caso de polícia #Fora Zema" e que, de acordo com organizadores, estará em diversos blocos durante os dias de carnaval.
No Então Brilha foi lido também um manifesto:
"Romeu Zema, governador das Gerais:
Viemos lhe mostrar o carnaval que a gente faz!
Veja esta cidade feliz
Do jeito que você não quis!
Zema seu incompetente
Não liberou os carros de som pra gente!
Zema sua burrice nos uniu
Sindicato, bloco, gente que você nunca viu!
Zema seu cabeça dura,
Aqui está, a força da Cultura!
Zema inimigo do povo
Partido velho pagando de novo!
Zema dos bancos, da construção
e da desgraça da mineração!
Zema amigo dos empreiteiros
Nós estamos com os petroleiros!
Zema seu vacilão
Pague o piso da educação!
Zema amigo do Jair
Não demora, vocês vão cair!
Zema patrão da polícia
O carnaval é uma delícia!
FORA ZEMA!!!!"
Edição: Elis Almeida e Joana Tavares