“Todos os dias me percebo mulher.
Quando sou interrompida e espremida.
Quando me explicam coisas que eu sei.
Quando sou colocada em rota de colisão com outra mulher.
Se você estiver atenta, o mundo te avisará a todo instante: você é uma mulher”
Milly Lacome
Na educação, não existe zona de conforto. Vivemos sempre riscos e incertezas eminentes. As possibilidades surgem junto aos desafios cotidianos inerentes à mulher educadora: ser feliz; humana; compreender de forma participativa a realidade presente; possibilitar a expressão da criatividade pessoal, canalizando-a ao aprendizado; acreditar que os estudantes são o principal patrimônio da instituição escolar; centralizar os esforços nas oportunidades de aprendizado e soluções de conflitos; estabelecer prioridades; manter-se atualizada; permitir a livre comunicação; planejar o tempo de forma elástica e, ainda assim, humana; concentrar-se na decisão; desenvolver-se e promover o desenvolvimento. Enfim, é preciso construir uma educação de qualidade, com uma influência intencional, gerando comprometimento, comportamento ético, transparente, flexível.
Mas há entraves pelo caminho. O descaso, a desvalorização, a falta de compromisso com a educação por parte da gestão pública, juntamente com o machismo, discriminação e violências interrompem constantemente o fluxo natural do desenvolvimento.
Quando analisamos a história da mulher na sociedade, percebemos que a educação foi e é uma das ferramentas responsáveis pela visibilidade e independência feminina, uma vez que possibilita que a mulher saia da condição de submissão (que por muito tempo foi julgada ter menor capacidade intelectual), para ser protagonista da própria vida.
O ingresso das mulheres no ensino superior se deu pelas incansáveis lutas e manifestações em busca de independência, em que as politicas públicas, educacionais tiveram efeitos positivos e progressivos no desenvolvimento do Brasil. Várias análises, dados, estudos mostram a participação da mulher na educação, que, com a conquista de novos direitos e espaço na sociedade, têm buscado uma maior qualificação e vêm se destacando no mercado de trabalho.
Ainda sim, percebemos que muitos desafios ainda são velados nas práticas diárias, nas relações de trabalho, em sala de aula e no convívio familiar e social. Diante disso, na prática cotidiana a educadora precisa estar preparada para construir novas estratégias de ação e posturas para superar, reagir à discriminação, ao preconceito e ao machismo de nossa sociedade.
A trajetória da mulher em busca da valorização da profissão professora, dividindo espaço, que inicialmente era unicamente seu, com os homens representa mais do que o avanço das mulheres, mas, sobretudo, a conquista de igualdade entre todos com as mesmas capacidades e potenciais. Muitas dessas conquistas vêm da contribuição do movimento feminista, que tem como objetivo a luta e reivindicação por igualdade de direitos, entre homens e mulheres.
O movimento de mulheres atua de forma incansável para garantir a participação da mulher nos mais distintos espaços da sociedade e garantir o respeito, a liberdade de expressão e o combate da imagem imposta pela sociedade patriarcal.
Ser mulher e ser professora é um duplo desafio. A sociedade patriarcal viola a mulher pelo simples fato de ser mulher, ou seja, ser mulher é sobreviver às diversas formas de violência (misoginia, feminicídio). Ser professora é provar a todo o momento que se é capaz, que se é habilitada, que se consegue sustentar o lugar do conhecimento. Fosse a profissão do magistério, especialmente o ensino infantil, fundamental e médio, exercido predominantemente por homens, será que haveria tanta desvalorização, tanto desrespeito, tanta violência? Creio que não. A desvalorização da profissão de professora está intrinsecamente ligada ao fato de ser exercida em grande parte pela mulher.
Sendo assim é imprescindível a garantia do exercício da cidadania para que haja justiça social e sem igualdade não há cidadania. E a nossa bandeira “mulher educadora”, é nosso desafio presente no enfrentamento ao caos instalado nos fatores políticos, econômicos, sociais e ideológicos.
Vamos à luta contra a violência e o machismo. Por uma educação digna e emancipatória, porque em casa de professora militar é verbo, não é substantivo.
Maria Aparecida Moreira é professora de Ensino Médio e Fundamental da Rede Estadual de Minas Gerais.
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Edição: Larissa Costa