A civilização é dinâmica e não existe padrão, mas o que é desejável, na acepção da palavra, é a elevação do nível cultural; melhoria na formação e comportamento das pessoas; avanço cultural, científicos, artístico e filosófico da sociedade.
As conquistas democráticas são progresso da civilização. O contrário de civilização é a barbárie. A barbárie sempre se caracterizou por grupos que ambicionam acumular fortunas usando a força e a crueldade. A evolução tecnológica e científica pode ser considerada como marco civilizatório, mas pode ser usada como ação contrária ao processo civilizatório.
O desenvolvimento das técnicas náuticas dos séculos XVI a XVIII, facilitou a exploração econômica da América Latina, Ásia e África. Além das misérias e acumulação de riquezas, o mercantilismo desse período, ainda incentivou a pirataria. A Rainha Elizabeth I da Inglaterra mandou a marinha de guerra dar cobertura aos piratas para saquear navios de outras nacionalidades, especialmente os provenientes da América Latina, transportando metais e pedras preciosas.
O tráfego negreiro; a escravidão de negros e ameríndios; o massacre dos primitivos habitantes da América foi uma barbárie. Tudo isso justificado de forma racional, fixado ideologicamente na memória coletiva como se fosse a defesa da civilização.
Para Michel Löwy, no começo do século XIX os escritores, artistas e filósofos românticos abriram caminho para novas concepções humanistas ao contestarem a ordem social então vigente. A literatura romântica, no Brasil, contribuiu para a campanha abolicionista fazendo progredir o processo civilizatório. Mas, em seguida, os grandes fazendeiros, os coronéis continuaram explorando os trabalhadores de forma análoga à escravidão.
No fundo, escritores e intelectuais faziam parte da elite e davam a ela o verniz de civilização, encobrindo as barbaridades, a exemplo da Guerra de Canudos. Ainda na primeira República (1889-1930), intelectuais e artistas absorvem a inquietação romântica e as teorias de Marx, em oposição ao conservantismo que mantinha as velhas injustiças sociais e preconceitos de classe e de cor.
A prosperidade de uma nação inteira é civilização, enquanto a prosperidade de poucos e a pobreza de muitos é barbárie. As elites sempre deturparam a democracia para adquirir poder e determinar tudo de acordo com seus interesses. A compra e a coerção de votos dos mais pobres, o suborno nas decisões governamentais e judiciais; autopromoção nas mídias.
A Constituição de 1988 teve o caráter de um instituto civilizatório, amparando as populações carentes; garantindo educação e saúde para todos, proteção ao meio ambiente, grupos indígenas e minorias sociais.
Com a deposição de Dilma Rousseff e emergência de Michel Temer, começa a reação das elites bárbaras, representadas por magistrados com elas comprometidos, bancadas parlamentares facciosas e corporativas, providenciaram as reformas da Constituição, desfazendo direitos de trabalhadores e proteção das minorias.
No governo Bolsonaro, nada se fez até o presente momento, senão reformar, melhor dizendo, “deformar” a Constituição, na busca de garantir máxima lucratividade aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, evidenciando o barbarismo econômico e social, sinalizado pelo aumento do desemprego, do subemprego e da informalidade. E ainda, aumento da violência policial contra os pobres e aumento da desigualdade de rendas.
Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh) e mestre em história pela PUC-RS.
Edição: Elis Almeida