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Coronavírus

Em tempos de pânico, melhor remédio é manter a calma

Profissionais da saúde dão dicas sobre como cuidar da saúde mental em situações de quarentena e isolamento

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Segundo psicanalista, é preciso ficar informada sobre ações no âmbito das políticas públicas e buscar construir laços de solidariedade, seja na família ou na vizinhança, que apostem no cuidado mútuo - Reprodução

Cuidar da saúde mental já não é uma coisa fácil, sobretudo em tempos de coronavírus. Com o pânico instalado, o medo e ansiedade podem ser tornar grandes inimigos no autocuidado e na prevenção contra a doença. O alerta é feito por especialistas que ressaltam: para lidar com esta crise, o melhor é manter a calma.

Segundo a médica de família Iracema de Almeida Benevides, a tendência é que o pânico e a ansiedade aumentem nos próximos dias, especialmente agora que há um crescimento na incidência dos casos. “Neste momento é preciso termos a capacidade de usar o ‘medo’ de uma maneira produtiva e focar no que precisa ser feito, como a lavagem correta das mãos, o aprendizado de novas formas de cumprimento social, de não se tocar e beijar, cuidados com os objetos e superfícies, proteção aos idosos”, comenta a médica, que segue o referencial da Medicina Antroposófica para orientações e cuidados preventivos com a saúde.

Fake news é o pior remédio

A psicanalista Paula de Paula, que também é professora de psicologia da PUC Minas, avalia que o excesso de informações é uma das principais causas de ansiedade e até de paranoia. Segundo ela, é muito perigoso se informar somente pelo WhatApp. “Não podemos ficar acreditando em todas as postagens. As pessoas precisam fazer o exercício de averiguar, procurar o que é fake news. E ficar ligado nos canais oficiais de informação, que são confiáveis”, aponta.

Paula pondera que a ansiedade e o medo também podem ter como causa as desigualdades sociais, uma vez que a muitos trabalhadores são informais ou vivem de pequenos comércios. “Essas pessoas podem ficar alarmadas por uma questão que não tem a ver com o medo da doença, mas o medo de como vai ser no final do mês para pagar as contas”, diz. Na opinião da psicanalista, é preciso ficar informada sobre ações no âmbito das políticas públicas e buscar construir laços de solidariedade, seja na família ou na vizinhança, que apostem no cuidado mútuo.

Dicas para lidar com o isolamento

Muitos trabalhadores têm a possibilidade de trabalhar de casa, evitando o convívio social e, consequentemente, evitando a transmissão do vírus, e contribuindo para a proteção coletiva. A quarentena, portanto, não deve ser entendida como punição. Ao contrário, como aponta Iracema, pode ser um momento de buscar novos hábitos e desacelerar.

“Já que está em casa, as pessoas podem comer mais devagar, porque não vai ter pressa de comer correndo para sair. Podem também preparar os alimentos de uma maneira mais pausada e curtir a preparação; tomar mais sucos à base de frutas e fazer receitas que até então não tiveram tempo”, sugere a médica. Frutas cítricas, como laranja e limão, devem ser consumidas à vontade.

Além disso, ela aconselha pensar em um dia de cada vez, planejar uma rotina curta e segui-la. Ela sugere manter o corpo ativo em casa, realizando alongamentos, atividades físicas simples, tomar 10 minutos de sol e fazer exercícios respiratórios de inspiração e expiração. Tudo isso ajuda a manter a calma e o foco.

A médica alerta para evitar o consumo de álcool e evitar ao máximo o anti-inflamatório ibuprofeno, muito usado em cólicas menstruais. Esse medicamento pode favorecer o desenvolvimento do vírus.

O que fazer com as crianças em casa

Com as crianças, a dica é organizar o dia com elas e aproveitar o tempo, por exemplo realizando brincadeiras lúdicas. No entanto, Paula afirma que a presença das crianças em casa pode ser um motivo que gere mais ansiedade tanto para elas, quanto para as mães, principalmente aquelas que não poderão ficar em quarentena.

Além dos laços de solidariedade, que podem facilitar o cuidado com os pequenos, uma forma de amenizar a ansiedade é conversar com os filhos sobre o que está acontecendo, sobre os motivos de não ter aula, sobre cuidados de higiene e mudanças de hábitos que envolvem contato físico. “Às vezes a gente não tem muita atenção nas crianças, mas elas também sofrem ou com a mudança do hábito ou porque o adulto não se preocupa em explicar para ela a situação. É preciso encontrar meios para conversar com as crianças, dentro da capacidade de entendimento que cada uma tem”, diz a psicanalista.

Como identificar se a ansiedade está fora de controle

- Se você não para de pensar na pandemia ou lê a mesma notícia várias vezes

- Se você fantasia ou projeta situações catastróficas ou tem pensamentos negativos recorrentes

- Se você possui alterações no sistema rítmico – coração e pulmão – como fôlego curto, falta de ar, dor no peito, respiração ofegante, batimentos acelerados

- Se você possui sintomas no aparelho digestivo, como vontade vomitar

- Se aumenta a frequência de vontade de urinar

- Se você se sente paralisado e não consegue realizar atividades básicas do seu dia a dia

Edição: Joana Tavares