Para ter um salário suficiente, uma professora precisa trabalhar em média 13 horas por dia. Isso é justo? Essa é a principal indignação da professora Cintia de Cássia Silva, que leciona na cidade de Mariana. Para ter melhores condições, Cintia trabalhava na escola estadual de manhã, na escola municipal à tarde e usava pelo menos duas horas de suas noites para corrigir provas e preparar as aulas.
“Isso sem intervalo de almoço. Saía de uma escola às 11h20, entrava no carro e pegava na outra às 11h30”, diz. “Mas eu preciso que seja assim, ou não sustento a casa”, desabafa Cintia, que cuida de seu filho de 8 anos sozinha.
Cíntia é uma das professoras da rede estadual de Minas Gerais que estão em greve desde o dia 11 de fevereiro. Uma das reivindicações é o pagamento do Piso Salarial Nacional, no valor de R$ 2.886,24, pois os professores de Minas recebem hoje R$ 1.982,54.
Brasil de Fato - Nós sabemos que os tempos mudaram. Os alunos mudaram. Como estão os alunos dentro da sala de aula?
Cintia de Cássia Silva - Até ano passado eu era regente de turma, estava em uma sala do 5° ano, com 32 alunos, sendo um especial. Os alunos se mostravam muito indisciplinados, poucos respeitavam os professores e os demais atores de escola, e em várias das vezes a falta de estrutura familiar, falta de uma pessoa para instruir o caminho certo e acompanhar os filhos na vida escolar, dificulta muito o nosso trabalho.
E como você lida com isso?
O professor precisa mudar a todo tempo, as rotinas pedagógicas mudaram muito, precisamos levar a tecnologia para a sala de aula, tornar as aulas mais atrativas. O velho giz precisa dividir espaço com jogos e mídias tecnológicas.
Se você pudesse resumir seu trabalho em uma frase, que diria?
Lutar para educar!
Fora da sala de aula, como é a vida da Cíntia?
Tenho um filho de 8 anos, que está na 4° série. Pela primeira vez estudando em escola pública. Não consigo mais pagar escola particular.
Minha vida precisou ser reestruturada depois que efetivei no Estado. Formei em pedagogia tem 10 anos e sempre trabalhei como pedagoga contratada na prefeitura, mas ano passado e neste não consegui conciliar horário para esse 2° cargo. Precisei readaptar toda nossa rotina. Tirei o João Pedro da escola particular, do Taekwondo e natação. Não viajamos mais com frequência, acabou as saidinhas aos finais de semana, pois o que ganho no Estado supre apenas o básico. Neste ano, com a mudança de escola, perdi a exigência curricular no valor de R$ 256,99, tenho empréstimo de R$ 425,55, e ainda tira o Ipsemg, imposto, previdência e sindicado. Tudo descontado em um salário médio de R$ 2.100. É vergonhoso o que sobra! Sem o segundo cargo, apenas subsistimos.
O que é preciso para que a vida dos professores melhore dentro e fora da sala de aula?
Valorização profissional. O Governo precisa entender que lutamos pelo básico. Ninguém fica rico trabalhando como professor do Estado. O pagamento do piso nacional nos daria, ao menos, um alívio na vida financeira. Se fôssemos valorizados, poderíamos optar por ter apenas um cargo, poderíamos ter maior dedicação para a preparação das aulas, com nosso crescimento profissional, investir em cursos e pós-graduações. Precisamos, também, de políticas públicas que ajudem o professor a enfrentar questões que nos são postas diariamente e fogem do nosso alcance. Professor faz vaquinha para cesta básica de famílias carentes, professor compra calçado, blusa de frio, uniforme para os seus meninos não passarem necessidade. Professor leva aluno para casa no final de semana para ser criança, para não ficar em um abrigo. Precisamos de amparo, assistência social e psicológica dentro das escolas. Hoje, absorvemos uma carga que muitas das vezes não aguentamos carregar.
Quer receber notícias do Brasil de Fato MG no seu Whatsapp? Clique aqui!
Edição: Joana Tavares