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O que a ditadura militar no Brasil tem a ver com o racismo hoje?

Deputada estadual de Minas Gerais comenta as heranças do golpe até hoje no país

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"Para além dos estudantes universitários, intelectuais e artistas brancos que fizeram a resistência, estavam as negras e os negros, estava o movimento antirracista" - Reprodução

Hoje, 31 de março, completam-se 56 anos do golpe civil-militar no Brasil. Para alguns, pensar na resistência à ditadura brasileira é pensar em canções de Chico Buarque. Mas, para além dos estudantes universitários, intelectuais e artistas brancos que fizeram a resistência, estavam as negras e os negros, estava o movimento antirracista.

Em 1976, os encontros do movimento negro passaram a ser vigiados e espionados por agentes da ditadura. Quarenta e um líderes negros foram assassinados ou desaparecidos. Em relatórios da Comissão da Verdade de São Paulo, que trouxe à tona documentos da ditadura, lê-se: "o negro, na medida em que se organiza, passa a ser considerado um perigo".

Nós já tínhamos as referências de Rosa Parks, Martin Luther King, Abdias do Nascimento, Malcolm X, dos Panteras Negras. Nós já estávamos discutindo o mito da democracia racial no Brasil. Essa era também uma das farsas da ditadura: pintar um país sem diferenças (e desigualdades) raciais.

Muitos integrantes do movimento negro à época sofreram perseguição psicológica, perderam seus empregos por estarem articulados na luta contra o racismo. O movimento negro, como em toda sua história, não compunha apenas a luta pela igualdade racial, mas atuava em toda a esquerda política organizada e suas pautas por liberdade e igualdade.

Mas que igualdade é essa se, passados 56 anos da deflagração do golpe no Brasil, o povo negro ainda não pode viver em uma democracia?

Não vivemos num país democrático se parte da população tem moradia e a outra não; se parte vive em trabalhos precarizados e sem direitos e outra parte vive de fortunas e heranças não-taxadas; se alguns jovens podem viver com liberdade e outros estão na mira - do soco e da arma - da polícia. Se vai haver leitos de UTI e respiradores para alguns, mas não para todos.

Sabemos muito bem quem está de qual lado das heranças escravocratas e coloniais do Brasil. Hoje levantamos nossas vozes em memória de todas as pessoas presas, torturadas, espancadas, perseguidas, criminalizadas, silenciadas pelo golpe civil-militar de 1964 no Brasil.

Por memória, verdade e justiça: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça. Mas levantamos nossas vozes também pela democracia que queremos: nela o direito à moradia, à saúde, à educação, ao lazer, à liberdade, à política, é de todas as pessoas, sem ninguém ficar para trás.

Andréia de Jesus é deputada estadual pelo PSOL-MG.

Edição: Joana Tavares