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Coluna

Um país no sufoco

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"Ao lado de ações necessárias para frear o horror, é preciso estar atento para quem está ao lado" - Acacio Pinheiro / Agência Brasília
Bolsonaro passa a ser uma ameaça de desagregação social, e não está sozinho

O pior presidente do mundo, Jair Bolsonaro é um caso que convoca explicações de todos os campos do conhecimento. Psicologicamente, tem recebido os mais abrangentes e acurados diagnósticos, que vão da personalidade autoritária à hebefrenia, passando pela sociopatia e erotomania homoafetiva recalcada. Agressivo, vingativo, cruel e destemperado são alguns de seus atributos destacados por profissionais da área.

Politicamente, ele representa uma tendência igualmente autoritária, que pavimenta projetos ditatoriais e de corrosão da democracia pela afirmação do populismo conservador. Usando sempre o álibi da eleição como esteio de seu poder, ele divide hoje com outros políticos execráveis, de Trump a Orbán, passando por Shinzo Abe e Modi, a vanguarda sombria da ascensão do neofascismo.

Intelectualmente, é limitado, com baixíssimo repertório e sem qualquer referência acadêmica ou de experiência de vida. Combate a ciência, a educação e despreza todas as formas de valorização do saber e da cultura. Não bastasse ser burro, promove a ignorância. Seu negacionismo climático e mesmo astronômico, já o colocou na posição do escárnio. Hoje, em meio à pandemia do novo coronavírus, torna-se o mais perigoso líder político do planeta, conduzindo seu país a uma catástrofe anunciada.

Gerencialmente, o mandatário se alinha na pior vertente da burocracia hierárquica e centralizadora, que cobra subserviência em vez de competência profissional. O que se traduz na formação de uma equipe despreparada e ideológica e nos chamamentos aos militares para tamponar qualquer buraco de sua administração. Queimar seus próprios indicados é o método de escolha para humilhar colaboradores.

Economicamente, tem levado o país a sonhos – que não são dele – regressivos, de um utraliberalismo inviável e destrutivo. Com uma cartilha que não serve para ler o atual estágio de desenvolvimento tecnológico e de relações multilaterais, conduz o barco da economia contra os interesses do país, fortalecendo parceiros que o desprezam e agigantando a crise social com a retirada de direitos para vitaminar os ganhos financeiros.

Nem só de pão vive o homem. Messias erra também espiritualmente. Neocristão ou retroevangélico, exibe com orgulho sua incapacidade de empatia, é absolutamente falto de compaixão e agressivo em relação a outras confissões religiosas. Seletivamente, absorveu de sua fé o que ela demonstrou de pior ao longo da história da civilização: o anátema, o preconceito, a ambição de poder, a simonia, o mercenarismo e o expansionismo intolerante.

Tudo isso já seria muito ruim em tempos normais. Com a crise da pandemia da covid-19 e as consequências na saúde pública, na economia e organização da sociedade, Bolsonaro deixa de ser um problema que seria saldado com o tempo e o amadurecimento da consciência dos brasileiros e passa a ser uma ameaça de desagregação social. No entanto, é preciso fazer justiça: ele não está sozinho.

Em todas as pesquisas, feitas com diferentes intenções e enfoques, fica patente algo que todos podem perceber no seu dia a dia: a parcela significativa de apoio, que se firma em torno de 30% das pessoas. Os bolsonaristas-raiz são, em medida variável, psicologicamente, politicamente, intelectualmente, economicamente e espiritualmente comprometidos com o mito que cultuam. São parte do mal que nos habita. Eles nos olham nos nossos olhos e somos capazes de reconhecê-los.

Por isso, ao lado de ações necessárias para frear o horror - e neste momento de dor insuportável evitar mortes em escala industrial e desumana -, é preciso estar atento para quem está ao lado. O impeachment ou qualquer outra atitude capaz de reverter institucionalmente o caminho em que o país se encontra, não vai dar conta de todo o mal que nos assola. Talvez nem mesmo a retomada aparentemente inviável da mobilização popular nas ruas.

É preciso combater não apenas Bolsonaro e sua corja civil-militar, mas seus vírus replicantes espalhados pelo corpo e alma do Brasil. Não se trata de abrir uma guerra fratricida, mas de enfrentar de forma destemida tudo aquilo que nos desumaniza. O que a razão não pode, em seu limite frente ao que horror que paralisa, deverá ser exercido pela vontade, oposição, combate direto e disputa de território. Corpo a corpo. O bolsominion já deixou de ser um adversário, ele é um inimigo. Mesmo, sinto muito, dentro de casa e nos grupos da família.

Quando nem a morte é capaz de sensibilizar. Quando os corpos se empilham anonimamente ou são jogados em valas, sem a lágrima ou oração dos que os amaram. Quando os responsáveis pela condução das políticas de defesa da vida falam mais de comércio que de cuidados com os doentes, está faltando algo além de responsabilidade, caixões e solidariedade humana. Falta ar. 

Edição: Joana Tavares