Para mim, André Pinto Rebouças, negro baiano nascido em 1838 e formado em engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, foi o maior líder da corrente progressista da Abolição da Escravatura. Essa articulação foi derrotada em favor da política imigrantista cujo propósito era excluir a população negra do projeto de nação e branquear a população.
João Batista de Lacerda, representando o Brasil no Congresso de Raças em Londres, em 1911, garantia que dali a 100 anos, ou seja em 2011, não haveria nenhuma pessoa negra no Brasil.
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Senhores de escravizados, inconformados com a perda de sua propriedade e a recusa de indenização por parte da Princesa Isabel e de outras personalidades, da noite para o dia viraram republicanos e apoiaram a derrubada da monarquia pouco mais de um ano depois, por meio de um golpe militar.
Numa economia eminentemente agrícola a perda da mão de obra foi um golpe inaceitável para esses senhores, cujos descendentes ainda estão no poder no Brasil de 2020.
Voltando a Rebouças, ele afirmava que:
“A emancipação do escravo e sua regeneração através da propriedade rural” só seria possível se houvesse uma “subdivisão racional das exageradas extensões de terra possuídas por nossos fazendeiros de café e de açúcar”. Em sua opinião “ser livre e ser proprietário rural constitui a maior aspiração do escravo desta terra miserável”.
Rebouças foi um obstinado defensor da reforma agrária, áspero tribuno e escritor de inúmeros artigos e cartas contra quem ele acusava de “grandes senhores territoriais e landlords”. O escravista e grande proprietário fundiário Antônio Prado em sua verve apaixonada foi chamado por ele de “facinoroso”.
Rebouças era também grande amigo do imperador e de toda a família real, e de muitos outros poderosos e influentes, a quem estava sempre buscando convencer (inclusive com projetos de leis que formulava) sobre imposto territorial, cadastro, e a urgência de uma reforma agrária, bem como de outras medidas de cunho social. Dentre essas medidas encontra-se “um projeto de Lei para Educação, Instrução e Elevação do nível moral dos libertos, em contraposição aos projetos de proteção aos fazendeiros e comissários de café”.
E para evitar que os negros apelassem para a violência, enquanto seus contemporâneos se esmeravam em propor medidas repressivas, esse grande reformador social sugeria “constituir Sociedades e Clubes para educação, instrução e aperfeiçoamento da Raça Africana”.
Estou escrevendo um livro sobre racismo e a construção da república brasileira. Estou tratando de nossas lutas armadas (Canudos, Contestado e a Revolta da Chibata – haverá outras?) e as lutas no campo institucional nos anos mais recentes. Solicito a vocês que me leram até aqui a gentileza de me sugerir livros, museus, filmes e outras fontes que possam me ajudar a construir a nossa saga em um país tão escandalosamente injusto e desigual como o Brasil. Agradecimentos.
Diva Moreira é professora, Jornalista e cientista política.
Edição: Elis Almeida