Minha preocupação nesse momento é única e exclusivamente a luta pela sobrevivência do maior número de pessoas. Minhas áreas de atuação - Pároco da Paróquia Jesus Missionário e Curador do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (MUQUIFU) - me permitem ficar em casa e é exatamente isso que estou fazendo.
Mas, nesse momento, minha preocupação não é egoísta, e vai além do meu senso irracional de auto-defesa e instinto de sobrevivência. Quero que os profissionais da saúde sobrevivam, os que cuidam da segurança pública, da limpeza urbana, trabalhadoras dos supermercados, dos serviços de transporte públicos, etc.
É muita gente que não pode ficar em casa, é muita gente que nem tem casa para ficar. A pandemia veio desmascarar o Brasil como "paraíso das desigualdades" e não basta apenas se envergonhar por isso agora, é urgente a nossa mobilização por uma cultura da regeneração libertadora do planeta. Do contrário, o caos estará muito próximo.
Estou mantendo, rigorosamente, o afastamento social que me é possível. E diariamente batem no meu portão pedindo comida, revelando a pior face da desigualdade social, a face dos famintos, dos miseráveis e dos invisíveis a sociedade. Se o meu problema é o tédio por estar trancado dentro de casa, o problema de tantos sempre foi não ter comida, saúde, educação, trabalho.
O dia 18 de maio de 2020 é o dia internacional dos museus e, completou-se 43 anos dos primeiros passos da minha irmã/filha querida, a enfermeira Jaqueline Aparecida da Silva. Por ela e por tantas pessoas que não podem ficar dentro de casa, cumpro minha penitência resiliente.
Padre Mauro Luiz da Silva, pároco da Paróquia Jesus Missionário, curador do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu) e doutorando em Ciências Sociais.
Edição: Elis Almeida