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Crônica | O amor: do #FiqueEmCasa ao #MoreNaSuaCasa

Entre março e maio deste ano, o número de processos para oficializar separações aumentou 30% em relação ao ano passado

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
relacionamentos que há anos já estavam aos pandarecos, namoros, amigações e trelelês recentes, todos indo às cucuias, e pelo mesmo motivo: o confinamento compulsório imposto pela pandemia da Covid-19 - FreePik

relacionamentos que há anos já estavam aos pandarecos, namoros, amigações e trelelês recentes, todos indo às cucuias, e pelo mesmo motivo: o confinamento compulsório imposto pela pandemia da Covid-19, há 100 dias – isso, claro, cumprido por pessoas que respeitam a Ciência, a verdade dos fatos e a vida, não a demência vocacional de um miliciano fascista eleito a poder de fake news para usurpar a presidência e servir de fantoche à decrepitude – sobretudo moral – de militares viúvos da ditadura e aos interesses sempre genocidas do neoliberalismo (leia-se, capitalismo, essa metástase).

no departamento divórcio, entre março e maio deste ano, o número de processos para oficializar separações aumentou 30% em relação ao mesmo período no ano passado.

porém, se bolsonaro e as matilhas de hienas que ainda o saúdam já armazenam rojões para estourar quando o Brasil, breve, alcançar o primeiro lugar no número de contágios e mortes pela Covid – o que fará os EUA e a Inglaterra soltarem rojões também, mas por saírem do foco da vergonha mundial na lida com a pandemia –, não poderão comemorar o título de Cupidos às Avessas: à frente do Brasil, disparados, estão Portugal, China, Itália e o país do coração de bolsonaro e suas hienas, EUA.

essas estatísticas sobre a ruína provocada pela pandemia também nos relacionamentos já foram amplamente divulgadas pela mídia mundial, mas aqui, em tempos de crenças estapafúrdias (terra redonda, cloroquina cura e bolsonaro é gente) e descrenças idem (especialmente da pandemia e sua letalidade, que se pode verificar vendo o movimento no comércio e nas ruas, com as pessoas mostrando empenho em bater o recorde mundial de quase promiscuidade de contato físico em filas, balcões e vitrines), pode-se conferir o aumento de separações conversando com amigos, conhecidos e parentes.

não raro se ouvirá a mesma queixa: no convívio diuturno, ininterrupto, as pessoas estão desconhecendo, ou conhecendo de fato, as pessoas com as quais juntaram as escovas de dentes, descobrindo-lhes modos que, até então, irritavam somente colegas da firma, e até, decepção maior, afetos e gestos solícitos incondicionais que há muito não se via em casa, com os seus, e muito pelo contrário: “Quando peço para limpar o banheiro, adiantar o almoço ou cuidar da criança por um tempo, me diz que, apesar de estar em casa, está trabalhando. Eu também estou, e ainda faço todas as tarefas da casa”, me segredou pessoa amiga, casada há anos, corroborando igual queixa confidenciada por outras amizades, de diferentes cidades e status sociais.

ao contrário de muitos e tantas, não creio que a pandemia irá mudar as pessoas, e para melhor, tornando-as mais conscientes e mais zelosas para com o meio ambiente e para com o chamado “próximo”, seja este um desconhecido de fato ou esse estranho familiar recém descoberto, com o qual, durante anos, se dividiu sonos, sonhos, intimidades, segredos, banhos e refeições – desde, claro, que você as preparasse, pois tal estranho – “você não vê?” – tem que terminar um relatório.

não creio no fim das relações, mas, darwinista da cabeça aos sapatos, creio em nossa capacidade de adaptação para tudo, com todos, donde, se o #FiqueEmCasa é vital (literalmente falando, e quem puder, continue) à saúde física e mental de todos, mas revelou-se danoso, ou mesmo letal, às relações íntimas, talvez a melhor saúde destas exija novo modus vivendi, cada um em seu canto – ou, juntos, mas #MoreNaSuaCasa.

ps: ontem, na padaria, caboco usando máscara – na testa... pensei em lhe dizer que a máscara previne Covid, não chifre, mas desisti. um caboco que usa camiseta com foto de bolsonaro nunca entenderá isso, e mais: merece uma galhada de alce canadense.

 

Edição: Joana Tavares