"Ele era uma criança sonhadora, já tinha até feito o pedido de uma aliança de compromisso para dar pra namoradinha", conta dona Ronilda Teixeira, mãe de Josué, de 16 anos, morto por um policial penal com um tiro na nuca na madrugada de domingo (19), na cidade de Montes Claros.

Em um depoimento emocionante, a mãe diz não saber como vai receber a aliança quando ela chegar.

Josué foi assassinado perto de onde morava, após uma reunião com amigos. Um policial, que vive próximo à residência do encontro dos jovens, se incomodou com o barulho e pediu para os meninos se calarem. Como não foi ouvido, teria atirado na residência.

Os adolescentes se esconderam, e quando tentaram correr para suas casas, teriam sido perseguidos pelo acusado. Josué perdeu a sandália que calçava e voltou para buscar. Foi surpreendido com um tiro à curta distância, na nuca, "que saiu pela boca", como relata sua mãe.

De acordo com dona Ronilda, os vídeos das câmeras de segurança do bairro mostram que o acusado ficou aproximadamente 40 minutos à procura dos jovens antes de atirar em Josué.

Investigação

O policial penal Valdir Alves, embora autuado em flagrante, foi solto na segunda (20), dia do sepultamento de Josué. Irá aguardar o julgamento em liberdade e alega legítima defesa. "Eu estava velando meu filho quando soube que o assassino tinha sido solto", revela Ronilda, que refuta a versão do suspeito, de que os adolescentes atacaram a casa do oficial.

No momento, a Polícia Civil investiga o caso recolhendo imagens, informações e depoimentos para apuração. “O policial foi colocado à disposição da Justiça e será submetido a uma audiência de custodia. Serão definidas as circunstâncias processuais referentes no âmbito judicial”, declarou o delegado responsável, Bruno Rezende, durante coletiva de imprensa.

O policial

A mãe de Josué alega que o acusado, antes mesmo de ser designado policial, circulava armado pelo bairro na tentativa de intimidar os conhecidos. "Antes do título ele andava com a arma por baixo da camisa e, após ser policial penal, andava sem blusa, de short, com a arma. Quem em sã consciência ia enfrentar uma pessoa dessa? Quem dirá adolescentes!", questiona.

Ela continua: "O assassino conhecia o Josué desde que ele estava na minha barriga. Testemunhas dizem que meu filho olhou para ele antes dele atirar. Eu acredito que o Josué não achou que ele ia ter coragem de matar, ele não acreditou nisso, achou que ia só intimidá-lo".

Sonhos de um jovem

Josué, que não tinha antecedentes criminais, havia trabalhado como repositor de mercadoria em supermercado e queria uma bicicleta para poder começar como entregador de aplicativo.

O pai do menino ia iniciar no mês que vem o pagamento de um consórcio para uma moto, que seria de Josué quando completasse 18 anos e tirasse carteira.

Ronilda lembra que o jovem estava muito animado com o seu crescimento e com os planos que fazia para a vida – estava feliz porque seu bigodinho estava nascendo. "Ele chegava pra mim 'ó, mãe, ó aqui meu bigodinho', e eu falava 'tem nada aí não, menino!’, brincando".

Ele se preocupava em se vestir bem. No fim de semana anterior, tinha pedido duas camisas, uma calça e um tênis para a mãe, que comprou as roupas e deixou o calçado para depois. “Ele disse ‘tô igual um playboy com essa roupa!’. Eu fico me perguntando... Se eu tivesse comprado o tênis, será que ele tinha morrido? Não tem como não pensar nessas coisas”.

Dona Ronilda, que já tinha depressão, piorou com o baque. Ela faz tratamento com remédios e dá “graças a Deus” pela advogada, que acompanha o processo e cedeu seus serviços gratuitamente para a família. Recentemente, ela financiou o terreno da casa onde mora para deixar para Josué e suas duas irmãs. “Não consegui terminar a casa e velei meu filho aqui”, desabafa.

Agora, ela afirma só querer justiça, “a divina e a dos homens”, e que o homem que arrancou seu filho volte para o presídio para esperar o julgamento, “como qualquer outro assassino”, declara.

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Edição: Elis Almeida