Depois de um ano e meio, milhares de pessoas atingidas pela Vale, em Brumadinho e na bacia do Rio Paraopeba, estão lidando com o sofrimento contando suas estórias com apoio das assessorias técnicas. Estão sendo escritos relatos de projetos de vida interrompidos, para transformar a dor em ação. Neste texto, apresento este trabalho e o direito à assessoria técnica numa das regiões atingidas, o Médio Vale do Rio Paraopeba.
A Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS) foi escolhida como assessoria técnica pelas pessoas atingidas da região 2 - que envolve os municípios de Betim, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Juatuba e Igarapé. Para compreender as consequências do desastre nesta região de Minas Gerais, planejamos um trabalho itinerante nas comunidades atingidas, com a instalação de uma sede em Betim, no bairro Citrolândia; e dois pontos de apoio, um em Igarapé e outro em São Joaquim de Bicas.
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Em 2019, realizamos conversas em 32 comunidades, quando foram levantados, pelas pessoas atingidas, uma série de prejuízos: perda de renda e de lucros cessantes na produção rural, na pesca, no comércio e em outras atividades econômicas; o receio da contaminação do ar, do solo, dos alimentos e da água; a preocupação com o aumento das doenças; a dificuldade de acesso à informação; a perda da tranquilidade; a perda do lazer; a perda do rio como referência cultural e de rituais; o receio de novos rompimentos; entre outros.
Todas estas informações compõem os resultados dos mecanismos de participação das pessoas atingidas, no levantamento de danos e de possibilidades de reparação e foram inseridas no processo judicial.
Depois deste levantamento preliminar, estamos iniciando um estudo mais aprofundado, dialogando com 39 comunidades. Finalizamos em junho a contratação de assessoras e assessores que vão conversar com as famílias atingidas sobre as consequências do desastre, reunir e analisar estas informações e levá-las para serem avaliadas no processo judicial.
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Temos feito reuniões com grupos de pessoas atingidas para aprofundar o debate dos temas que surgem no registro familiar. Disponibilizamos um número de telefone (31 983235151) e uma página na internet (www.aedasmg.org.br), para levar informação também a quem ainda não está participando do processo.
Além disso, estamos acompanhando atentamente a evolução da pandemia em cada uma das regiões assessoradas. Portanto a nossa ida a campo se dará quando for seguro. Quando isso acontecer, será feito de forma gradual e obedecendo aos protocolos de segurança, para que não haja disseminação da doença.
Contar a história deste desastre é contar as estórias das pessoas atingidas. Para assim construir a narrativa sobre o que foi este rompimento. Nosso compromisso é com a centralidade das pessoas atingidas, isto é, não atuamos para substituir a presença das pessoas atingidas, que são as protagonistas. Aprendemos muito até aqui, com estas trajetórias de vida e pretendemos contribuir ainda por mais tempo.
Luiz Otávio Ribas é coordenador institucional da AEDAS na região do Médio Vale do Rio Paraopeba.
Edição: Elis Almeida