Os impactos da pandemia na economia têm colocado em risco trabalhadores de todos os setores, dentre eles os metalúrgicos. Na última semana a fábrica da Renault no Paraná foi obrigada pela justiça a suspender a demissão de 747 trabalhadores, depois de uma luta da categoria e do sindicato que durou vários dias.
A luta do sindicato foi fundamental para preservar a saúde, a vida e os empregos dos metalúrgicos
Para conversar sobre a vida dos trabalhadores metalúrgicos e a atuação do sindicato desse setor importante da economia mineira e de Belo Horizonte, em meio a pandemia do novo coronavírus, conversamos com Geraldo Valgas, presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de BH, Contagem e região.
Um dos eixos da campanha dos metalúrgicos este ano é a questão da saúde. Qual é a situação dos trabalhadores do setor nessa pandemia? As empresas estão resguardando os trabalhadores do risco de contaminação?
Geraldo Valgas O Sindicato tem feito uma grande campanha de conscientização sobre os cuidados e as medidas de prevenção a contaminação do coronavírus. Não há números exatos, mas felizmente o registro de contaminados e mortos pelo vírus no setor metalúrgico é baixo. A luta é para zerar essa conta, para isso o sindicato está em constante dialogo com os trabalhadores para se informar e não permitir que empresas descumpram as recomendações de prevenção contra o Covid-19. Felizmente a maioria das empresas está tomando as medidas necessárias.
Em maio, um boletim da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas apontou que a indústria metalúrgica é o setor onde mais acordos coletivos foram firmados entre março e meados de maio, com revisão dos contratos. Os trabalhadores estão mais fragilizados neste momento, na sua relação com os patrões?
Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, continuamos na luta em defesa dos trabalhadores. Foi por meio dessa luta que se construiu uma Convenção Coletiva Emergencial que assegura medidas de segurança e prevenção à saúde e a vida dos metalúrgicos de Minas. A Convenção Emergencial ampliou os direitos e garantias dos trabalhadores, se comparada com a Medida Provisória 936.
Reincorporação de 747 trabalhadores demitidos pela Renault no Paraná foi uma grande vitória da classe trabalhadora contra a demissão em massa e contra a prática antisindical
As regras sobre redução da jornada de trabalho e salário e suspensão do contrato de trabalho seguem o que determina a Medida Provisória (MP 936), entretanto, cria a possibilidade de se negociar outros percentuais de redução de jornada e salário, mediante negociação com o sindicato.
Além da garantia de emprego estabelecida pela MP 936, a Convenção Emergencial conquistou 30 dias a mais de estabilidade. Ou seja, o trabalhador que tiver redução de jornada, salário ou suspensão do contrato de trabalho por três meses, terá 120 dias de estabilidade.
Essas e outras medidas estabelecidas pela convenção emergencial estão sendo fundamentais para preservar a saúde, a vida e os empregos dos metalúrgicos.
E a organização sindical ficou mais difícil com a questão do isolamento?
Tudo ficou mais difícil com o isolamento, mas, como em todos os setores, nós, metalúrgicos também tivemos que nos reinventar.
O boletim do Sindicato que era impresso agora tem chegado para nós, metalúrgicos, de forma virtual. As informações de interesse dos metalúrgicos são divulgadas pela página do Sindicato na internet e pelas redes sociais.
Contaminados e mortos pelo coronavírus no setor metalúrgico é baixo, a luta é para zerar essa conta
As reuniões e assembleias são realizadas por meio das plataformas virtuais e tem sido bem interessantes. O sindicato negociou e aprovou importantes acordos de Participação nos Lucros e Resultados com as empresas Vallourec, CNH, Magotteaux, Data Engenharia, O Engenharia e Magna Cosma. Além dessas empresas, estamos em processo de negociação com outras fábricas.
Foi realizada uma boa assembleia de aprovação da pauta de reivindicações da campanha salarial dos metalúrgicos e a entidade está em constante aprendizado para se adaptar ao novo normal, sem prejudicar a defesa dos interesses da classe trabalhadora.
No Paraná, esta semana, a Justiça do Trabalho determinou a reincorporação de 747 trabalhadores demitidos pela Renault. Também foi estipulada uma multa diária de R$ 100 mil à montadora em caso de descumprimento. Como você avalia essa medida e que implicações ela traz para as lutas dos metalúrgicos no restante do país?
A medida abriu precedentes em favor da luta sindical para outros locais no país. Foi uma grande vitória da classe trabalhadora contra a demissão em massa e contra a prática antisindical. Os metalúrgicos de BH/Contagem são solidários com os companheiros da Renault.
Que medidas deveriam ser tomadas para preservar os empregos dos brasileiros e recuperar a economia brasileira neste momento? E em Minas Gerais?
Defendo que haja crédito facilitado e com baixas taxas para que o pequeno e o microempresário possam manter sua atividade e garantir os empregos. O Estado também tem papel fundamental na recuperação econômica. Quando ele investe em obras de infraestrutura, o resultado é a geração de emprego, renda e maior demanda para o setor industrial.
Edição: Elis Almeida