Esses últimos tempos fui tomada por um senso de realização muito grande. Seriam os louros da quarentena? Isso soa um pouco estranho, é verdade. Mas acredito que do caos pode-se ascender coisas boas. Sou uma terrível otimista de 33 anos. Idade forte, idade crítica.
Deixe-me contar um pouco sobre como os sonhos têm se tornado realidade. Dizem que o que você procura também está te procurando. Pois bem. Quando me mudei para a casa que eu moro, há dois anos, olhava para a minha rua que já tinha alguns pés de frutas plantados e sonhei um dia plantar mais pés de fruta nessa mesma rua. Eu tenho “sonhos jardins” como diz, Rubem Alves. Tenho desejos de fruta comida do pé, e socializar isso faz parte dos ideais que acredito. Trazer as pessoas para perto da natureza, também.
Eis que o sonho ficou guardadinho, até que o destino resolveu dar uma ajuda, colocando uma senhorinha de 75 anos no meu caminho. Ela se chama Olga, e esse serzinho de luz, é minha vizinha da rua de cima, e também tem “sonhos Jardins” como eu. Ela mesma furou os buracos para a gente plantar dois pés de graviola na rua. Pensa numa senhora com 75 anos furando buraco? É impressionante tamanha vitalidade!
Olga planta e cuida de árvores frutíferas na rua e socializa conhecimentos sobre a terra, o solo, as plantas, a rega e a reutilização dos resíduos
Eu fiquei muito feliz de ter plantado as árvores e mais extasiada com a sincronicidade desse encontro, porque, Olga pensa como eu. Ela adotou quatro quarteirões na avenida principal do bairro e plantou várias árvores frutíferas e vem cuidando com muita dedicação. Como já entendi que o universo vai juntando as pessoas afins, me ofereci a ajudar, e agora cuidamos das plantas juntas.
Na semana passada construímos gotejadores para as mudas e instalamos. Olga também me ajudou a construir o meu próprio minhocário, abriu seu quintal e sua casa para mim. Revelou conhecimentos poderosos agroecológicos para essa jovem aprendiz. Socializou conhecimentos sobre a terra, o solo, as plantas, a rega, a reutilização dos resíduos. Como funciona a sua casa, que é toda adaptada para a sustentabilidade e a captação da água de chuva, técnicas de cobertura vegetal e truques para deixar a horta de casa carregada.
Ela me disse que sua relação com o plantar é um comer com os olhos, e explicou: - “Se um amigo chega, eu dou um jiló ou um chuchu e, às vezes, nem fica para mim. Eu não como com a boca, mas com os olhos! Acompanho o crescimento, os frutos enfeitam a minha casa e é tão bom presentear”.
Outra coisa bem bonita que ela me contou: - “Os João de Barro vinham à minha casa pegar o barro do meu jardim. Eles vinham toda manhã, faziam uma bolinha de barro com o biquinho, acertavam na quina do tijolo e voavam para o ninho. Eu acompanhei. Eu devo ter um condomínio de João de Barros espalhado por aí”. E me mostrava a casa de um João de Barro, em cima do poste.
É muita poesia, não é? Coisas que, só quem ama a natureza, entende. Por isso, sou grata. Que venham mais trocas, mais trabalho, mais realizações, mais projetos. Que venha a concretude de uma possível horta comunitária. Porque, para se ter um jardim, basta que tenhamos pássaros, homens, jardineiros dispostos, do resto a natureza se encarrega com muita facilidade.
Layla dos Santos é mãe, professora de criança, brincante, contadora de histórias, candomblecista, reikiana, massoterapeuta e aromaterapeuta. Mantém a coluna Bem Te Vejo no blog benditaexistencia.com
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Edição: Elis Almeida